O mercado do feijão-carioca atravessou mais uma semana de travamento significativo, refletindo um cenário de liquidez extremamente baixa, ausência quase total de compradores e aumento da pressão sobre os preços. De acordo com Evandro Oliveira, analista da Safras & Mercado, a zona cerealista de São Paulo seguiu ofertando volumes diários superiores a 10 mil sacas (praticamente todas as sobras acumuladas de dias anteriores) com pouca ou nenhuma movimentação real.
“Os compradores seguem ausentes, sem urgência de reposição e abastecidos por negociações anteriores”, explica o analista. “A apatia geral é visível, com corretores relatando insistentemente a falta de urgência das indústrias.”
As poucas vendas registradas foram pontuais, envolvendo feijões padrão 7,5 por R$ 170/saca para embarques programados e lotes comerciais a valores em torno de R$ 190–200/saca. Já os grãos mais nobres (padrão 9 a 9,5), que semanas atrás eram ofertados a R$ 305/saca, caíram para R$ 250–270/saca, sem tração real – queda superior a R$ 30/saca em menos de 15 dias. Os preços mantêm-se nominais na maioria das praças, sem validação de mercado via vendas efetivas.
Em Minas Gerais, onde a colheita da segunda safra já ultrapassa os 40%, o excesso de chuvas no Sul do estado e na Zona da Mata começa a afetar a qualidade de parte dos lotes, elevando o risco de comercialização para feijões fora de padrão. Nas regiões de origem, cotações até nota 8,5 recuaram para R$ 188–192/saca FOB no interior de São Paulo e R$ 198–205/saca FOB no Noroeste mineiro.
“Diante da crescente sobra de produto, alguns corretores já articulam alternativas como parcerias para armazenagem ou possíveis promoções no varejo. Mas, no curto prazo, o mercado permanece travado, sem sinais concretos de reação”, avalia Oliveira. Segundo ele, “a expectativa de retomada do giro depende de fatores como redução dos estoques disponíveis, avanços na entressafra e um movimento coordenado de reposição por parte do canal varejista”.
Produtores mantêm pedidas firmes, mas mercado segue inerte
O mercado do feijão-preto, por sua vez, também registrou uma semana de forte paralisia, sem avanço nas negociações e com compradores praticamente fora da praça. O ambiente se manteve em ritmo típico de final de semana durante todos os dias úteis, com liquidez praticamente nula e absoluta ausência de tração comercial.
“Corretores relataram diversas tentativas de venda, oferecendo feijões a granel a R$ 185/saca e até R$ 170/saca para grãos extra via amostra, sem sucesso. A falta de interesse não decorre do preço, mas sim de uma demanda completamente retraída”, observa o analista.
As referências seguem majoritariamente nominais, com os preços sem validação prática. Nas principais praças produtoras, os patamares observados foram: R$ 137–145/saca FOB em Curitiba (PR), R$ 159–162/saca FOB no interior de SP, R$ 147–150/saca FOB em Campos de Cima da Serra (RS), onde produtores seguem firmes em pedidas acima de R$ 150/saca, e R$ 133–136/saca no Oeste de SC. Em Erechim (RS), houve reportes de negociações pontuais a apenas R$ 118/saca, valor significativamente abaixo do mínimo oficial (R$ 152/saca), acendendo o alerta para o agravamento da crise de comercialização.
Apesar disso, parte dos agentes de mercado começa a vislumbrar uma possível reversão. “A avaliação é de que os preços já tocaram fundo técnico e que a entressafra (jul–dez), combinada a um câmbio ainda favorável às exportações e à menor pressão da oferta a partir de agosto, pode impulsionar uma recuperação gradual dos valores”, acredita o analista.
No Rio Grande do Sul, as chuvas intensas continuaram prejudicando as lavouras remanescentes, com cerca de 2% da área total comprometida por germinação pré-colheita e deterioração dos grãos. Esse fator tende a reduzir a disponibilidade futura de feijão-preto de boa qualidade, o que, junto ao escoamento externo, pode funcionar como suporte aos preços nos próximos meses.
“Entretanto, enquanto o varejo não demonstrar sinais claros de reposição e os empacotadores continuarem operando com estoques mínimos devido ao alto custo de capital, o mercado deve seguir travado”, finaliza Oliveira. Para ele, a expectativa agora recai sobre uma reativação das exportações e o avanço da entressafra como potenciais vetores de retomada.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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