Porto Alegre, 4 de julho de 2025 – O ajuste brutal visto desde o pico de 2023/24 confirma o caráter cíclico do arroz: preços de R$ 120–130 por saca de 50 quilos, alimentados por restrições externas e euforia especulativa, atraíram produtores novatos e estimularam expansão de área. “A colheita volumosa de 2024/25, somada ao consumo doméstico estagnado e a exportações aquém do necessário, gerou superoferta e derrubou cotações muito além do esperado”, explica o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.
Nas principais praças do Sul, a saca em casca retornou à faixa de R$ 65–70. “Fora da região, onde os custos ultrapassam os R$ 100 por saca, o valor ainda é considerado inviável, provocando forte desmotivação no campo”, lamenta o analista.
Nas últimas semanas, um leve desequilíbrio entre maior presença compradora e oferta deliberadamente contida vem abrindo espaço para recuperação gradual dos preços – ainda que junho tenha perdas acumuladas significativas. “Esse movimento de reação, porém, não afasta o fato de que as cotações seguem coladas ao preço mínimo oficial e abaixo do custo operacional em várias regiões”, lembra Oliveira.
Sem margem, o produtor posterga vendas, enquanto a indústria repõe apenas o necessário, mantendo o mercado em ritmo lento. “A atual sensação de firmeza depende mais da retração vendedora do que de um real aquecimento da demanda”, pondera o consultor.
Para o analista, o risco estrutural se projeta para a próxima safra: a combinação de margens negativas, carga tributária pesada e custos crescentes (insumos, energia, frete) indica provável corte de área, sobretudo entre produtores pouco capitalizados ou sem gestão de risco eficiente.
“Caso o plantio encolha de forma expressiva, a cadeia poderá experimentar um novo ciclo de escassez e alta generalizada de preços no varejo nas próximas temporadas, mas apenas depois de um período traumático de descapitalização no campo”, projeta Oliveira.
A média da saca de 50 quilos de arroz no Rio Grande do Sul (58/62% de grãos inteiros, pagamento à vista) encerrou a quinta-feira em R$ 65,87, alta de 0,43% em relação à semana anterior. Na comparação com o mesmo período do mês passado, o recuo foi de 9,28%, enquanto, em relação a 2024, a desvalorização atingiu 42,86%.
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Rodrigo Ramos/ Agência Safras News
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