O mês de maio foi marcado por um mercado de feijão dividido entre o desinteresse comercial do tipo carioca e o excesso de oferta no feijão preto. Segundo o analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira, a liquidez permaneceu baixa em ambos os tipos, com compradores seletivos e um ritmo de negócios travado.
Feijão carioca
No mercado de feijão carioca, a comercialização foi travada ao longo de maio, mesmo com oferta ajustada em diversas praças. A falta de interesse por parte do varejo comprometeu o ritmo de negócios, reduzindo a liquidez a negociações pontuais.
Compradores adotaram postura defensiva, focados apenas em grãos de escurecimento lento e de alta qualidade, e sempre em volumes reduzidos, apontou Oliveira. Com estoques abastecidos, o varejo não demonstrou pressa em renovar as prateleiras. A falta de pressão compradora impediu qualquer reação significativa nos preços.
Segundo o analista, os produtores, por sua vez, resistiram a ofertas com deságio e optaram pelo armazenamento de grãos superiores. “Corretores mostraram mais flexibilidade, tentando liberar mercadorias em momentos de acúmulo, o que levou a recuos pontuais nos padrões inferiores”, destaca.
Em momentos de acúmulo, corretores cederam parcialmente para evitar custos com estocagem, gerando recuos pontuais em padrões inferiores e intermediários. Feijões extra 9,5 de escurecimento lento recuaram de R$ 315 para R$ 305/sc CIF SP; tipo 8 caiu de R$ 230 para R$ 210/sc no Paraná e tipo 7,5 foi negociado a R$ 175/sc frente aos R$ 190/sc iniciais.
Grãos premium (notas 9 e 9,5) mantiveram pedidas firmes entre R$ 305 e R$ 320/sc posto em São Paulo, com escassez persistente e vendas pontuais. Goiás e Minas indicaram valores entre R$ 240 e R$ 270/sc. Lotes 8,5 concentraram maior volume, com preços entre R$ 240 e R$ 280/sc. Tipos comerciais oscilaram de R$ 190 a R$ 220/sc, com recuos adicionais em caso de defeitos ou coloração inferior.
“As condições climáticas também influenciaram o mercado. Chuvas e frentes frias no Paraná e no Sul do país geraram incertezas sobre colheita e secagem de parte da safra. Cerca de um terço da produção ainda estava no campo no fim do mês, elevando o risco de perdas qualitativas”, relatou Oliveira.
Feijão preto
Sob a pressão de uma oferta robusta, vinda do avanço da segunda safra, e de uma demanda interna fraca e cautelosa, conforme o analista, o mercado de feijão preto passou o mês de maio com negócios travados, preços em queda e liquidez bastante comprometida.
Durante todo o mês, o mercado operou em ritmo lento, com a maior parte das negociações ocorrendo fora da bolsa ou diretamente nas regiões produtoras, disse.
Ele também afirmou que a comercialização via pregão foi praticamente irrelevante, marcada pela ausência recorrente de compradores e volumes extremamente baixos. A maioria das sacas ofertadas foi destinada ao armazenamento, reflexo direto da apatia da demanda. A liquidez foi afetada pela postura conservadora dos agentes compradores, que optaram por compras pontuais e em volumes reduzidos, restringindo ainda mais a dinâmica do mercado.
Com mais de 34% da colheita concluída no Paraná e 25% no Rio Grande do Sul, a concorrência entre os vendedores aumentou. Apesar da expectativa de queda na produção total, o avanço da colheita manteve a percepção de mercado pressionada, e muitos produtores, especialmente os menos estruturados, foram forçados a vender por necessidade de caixa.
Oliveira explicou que a demanda seguiu pautada por compras mão para boca, com foco em qualidade e forte resistência a grãos fora de especificação. Embora as exportações tenham registrado desempenho positivo até abril (+US$ 42,57 milhões e 44,9 mil toneladas), a movimentação no mercado doméstico não acompanhou esse ritmo.
“Já entre os vendedores, observou-se um duplo comportamento: produtores capitalizados estocaram, enquanto outros liquidaram parte da produção, pressionando ainda mais os preços. A dificuldade de precificação e o afastamento dos pregões também contribuíram para a desorganização do mercado”, relatou.
Por fim, o analista estimou que com o avanço da colheita, a expectativa gira em torno do comportamento da demanda doméstica e da continuidade das exportações. “Apesar do cenário ainda pressionado, já há sinais de que os preços do feijão preto possam ter atingido o piso, com possível recuperação nas próximas semanas”, projetou.
Ritiele Rodrigues – ritiele.rodrigues@safras.com.br (Safras News)
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