Lentidão e preocupação com quebra no Sul marcam mercado de milho

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     Porto Alegre, 17 de dezembro de 2021 – O mercado brasileiro de milho teve uma semana de poucas mudanças nos preços. Foi calmo o ritmo na comercialização, com muitos agentes já deixando negociações para 2022 e com empresas entrando em recesso de final de ano. Segue a apreensão com a safra de verão, sobretudo no Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, diante da falta de umidade.

     As falhas entre as previsões de chuvas em novembro e o ocorrido de fato acabaram trazendo uma situação novamente problemática à safra do Rio Grande do Sul, em particular, como destaca o consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari. Ele comenta que o La Niña está cada semana mais evidente e se configurando no clima mundial. “O excesso de chuvas no Nordeste do Brasil e a falta de chuvas no Sul é uma característica clássica do La Niña neste momento. Infelizmente, a região registrou um ótimo início de safra, mas, parte da produção agora depende de boas chuvas continuadas em dezembro e janeiro para a confirmação da produção”, pondera.

     Molinari indica que o mapa do NOAA vai confirmando a presença mais evidente do La Niña neste mês de dezembro. As temperaturas nas águas do pacífico central estão esfriando a cada semana. As projeções do NOAA apontam que permanecerá pelo menos até julho no clima global. Para a América do Sul, no momento em que o La Niña vai se confirmando temos uma configuração para o verão de excesso de chuvas no Centro-Norte da América do Sul e abaixo do normal no Centro-Sul. “Os maiores alvos têm sido Argentina e Sul do Brasil nos últimos eventos deste fenômeno e não parece que será diferente neste de 2021/22”, indica o consultor.

     Em novembro, as chuvas chegaram cedo ao Matopiba, possibilitando uma safra mais precoce ou em uma boa janela e seguindo com chuvas normais a acima do normal em dezembro. Já a região Centro-Sul divide o quadro em situações próximas ao normal ou no limite, com uma situação já de perdas de produção no Rio Grande do Sul, avalia. Novembro marcou o corte de chuvas na região Sul. Porém, com algum estoque de umidade no solo as plantas ainda conseguiram manter alguma visão positiva para a produção na primeira quinzena. “As projeções de chuvas para a segunda quinzena e início de dezembro falharam. As chuvas em dezembro, até agora, somente foram registradas na última semana no Leste da região Sul. Então, temos um novo grande bolsão de estiagem que se iniciou no Rio Grande do Sul e se expande para o Centro-Oeste de Santa Catarina e Oeste e Noroeste do Paraná. Neste bolsão, as chuvas nos últimos 30 dias tiveram cobertura de 20 a 70 mm, sendo piores no RS e melhores para o Paraná e Oeste de Santa Catarina”, aborda o consultor.

     Molinari diz que as perdas no RS devem ficar entre 40% e 50% caso as chuvas previstas para esta terceira semana de dezembro se confirmem em bom volume. Caso contrário, as perdas poderão ser maiores. “Santa Catarina podemos sugerir 10 a 20% em perdas no Oeste pelas informações até agora apontadas e Paraná ainda dependendo destas chuvas de dezembro e janeiro. Com estas perdas, devemos considerar que a safra de verão não chegará ao mercado de forma uniforme. A única região que colhe em janeiro/ fevereiro é exatamente o Oeste do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde estão as maiores perdas”, adverte Molinari.

     “Então, entre janeiro e abril, a possibilidade de uma corrida pelo milho novo que estiver com chances de colheita ou do pouco milho da safra velha que estará passando para 2022 poderá colocar os preços novamente em uma curva de alta. A quebra de safra de verão é um fator que limitará a disponibilidade no primeiro semestre”, alerta o consultor. E diz ainda que a boa exportação de dezembro acaba de “enxugar” os excedentes que teríamos para esta transição de ano comercial.

     Alguns movimentos de venda de milho para desocupar armazéns para a entrada da safra de verão promoveram pressão sobre os preços. Mas foram movimentos pontuais, apenas.

     No balanço dos últimos sete dias, entre as quintas-feiras 09 e 16 de dezembro, o milho em Campinas/CIF na venda recuou de R$ 94,00 para R$ 93,00 a saca, com declínio de 1,1%. Na região Mogiana paulista, o cereal na venda se manteve em R$ 90,00 a saca.

     Em Cascavel, no Paraná, no comparativo semanal, o preço baixou de R$ 90,00 para R$ 89,00 a saca, baixa de 1,1%. Em Rondonópolis, Mato Grosso, a cotação seguiu em R$ 75,00. Já em Erechim, Rio Grande do Sul, o valor seguiu em R$ 94,00 a saca.

     Em Uberlândia, Minas Gerais, a cotação subiu de R$ 85,00 para R$ 87,00 a saca, aumento de 2,35%. Em Rio Verde, Goiás, o mercado ficou estável em R$ 80,00.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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