São Paulo – A diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Adriana Kugler, afirmou hoje que o aumento das tarifas comerciais pressionará os preços para cima, ao mesmo tempo em que reduzirá os rendimentos reais das famílias e desacelerará o crescimento econômico.
“Embora tarifas mais altas sobre produtos importados possam afetar nossa macroeconomia por vários canais… acredito que elas atuarão principalmente como um choque negativo de oferta, elevando os preços e diminuindo a atividade econômica”, disse Kugler em discurso em Dublin, na Irlanda.
Os comentários de Kugler surgem mesmo após os Estados Unidos e a China concordarem em desescalar o conflito comercial, cortando temporariamente em 115% suas tarifas recíprocas, por um período de 90 dias. Segundo o acordo, as tarifas americanas sobre produtos chineses, que chegavam a 145%, cairão para 30%, e as taxas de retaliação da China, de 125% para 10%.
“As políticas comerciais estão em evolução e provavelmente continuarão mudando, até mesmo tão recentemente quanto esta manhã”, observou a economista.
Riscos inflacionários e desaceleração
Diante dos riscos de alta da inflação e do status “um tanto restritivo” da atual política monetária, Kugler declarou apoio à manutenção das taxas de juros inalteradas na reunião do Fed da semana passada.
“Vejo que os Estados Unidos provavelmente experimentarão crescimento mais baixo e inflação mais alta”, afirmou.
Ela ainda enfatizou que, mesmo com a tarifa média final ainda indefinida, as alíquotas anunciadas estão “muito acima” dos níveis das últimas décadas.
“Se as tarifas permanecerem substancialmente maiores do que no início do ano, espera-se que seus efeitos econômicos – inflação mais alta e crescimento mais lento – também sejam acentuados.”
Segundo Kugler, o aumento dos preços de importação reduzirá o poder de compra das famílias e elevará os custos operacionais das empresas, levando consumidores a demandar menos bens e serviços e as empresas a reduzir insumos. No médio prazo, pode haver impacto negativo na produtividade, já que as firmas compensarão os custos elevados de peças diminuindo investimentos de capital e adotando combinações menos eficientes de insumos.
Tarifas sobre bens intermediários e repasse de custos
Kugler chamou atenção para o fato de que, embora bens importados representem apenas 11% do PIB, as tarifas sobre produtos intermediários – como alumínio e aço – podem afetar amplamente os preços finais. Ela citou pesquisa do Fed de Dallas com executivos no Texas, na qual 55% das empresas preveem repassar a maior parte ou a totalidade dos custos tarifários aos clientes. Destas, 26% esperam fazê-lo logo após o anúncio das tarifas e 64% dentro dos três meses seguintes à vigência.
“Isso sugere que os aumentos de preços podem ocorrer em breve”, afirmou Kugler.
Em relação às expectativas, a diretora destacou a alta nas projeções de inflação de longo prazo registradas na pesquisa da Universidade de Michigan, no nível mais alto desde junho de 1991.
“Com inflação e emprego potencialmente caminhando em direções opostas, monitorarei de perto esses desenvolvimentos ao considerar o caminho futuro da política”, concluiu Kugler.

