Café reage em Nova York com indicações de safra abaixo do esperado no Brasil

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     Porto Alegre, 23 de setembro de 2022 – A semana foi de preços mais altos para o café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização internacional. A aversão ao risco, com temores de recessão global e confirmação de juros mais altos nos Estados Unidos, foi fator baixista, mas o mercado reagiu às indicações de que o Brasil em 2022 colheu uma safra menor do que o esperado.

     Queda nos estoques certificados da Bolsa de NY aos níveis mais baixos em 23 anos reforça o sentimento de aperto na oferta no curto prazo, com compradores (indústrias torrefadoras) buscando esses cafés para se abastecerem. Há ainda notícias de problemas produtivos na Colômbia e na América Central para o arábica, e também para o Vietnã no robusta.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o mercado de café encontra suporte na pouca disponibilidade física, mas mostra dificuldade em dar sequência aos ganhos por conta da demanda fraca. Ele comenta que a expectativa em torno da decisão do Fed (Banco Central americano) agitou os mercados e trouxe volatilidade ao dólar e ao preço internacional da bebida. A autoridade norte-americana elevou a taxa de juros básica nos EUA em 0,75 pontos percentuais, em linha com as expectativas do mercado. E isso deve reduzir um pouco a ansiedade dos operadores, avalia.

     No lado fundamental, a Conab (Companhia Nacional do Abastecimento) em seu terceiro levantamento da safra brasileira de café 2022 revisou para baixo a produção para 50,38 milhões de sacas, 3 milhões de sacas a menos que no segundo levantamento (53,4 milhões de sacas). A produção deve ter um aumento de 5,6% em relação a 2021, quando foram colhidas 47,73 milhões de sacas. O número é próximo da estimativa de SAFRAS & Mercado, que revisou a produção para 58,2 milhões de sacas, no comparativo com 61,1 milhões de sacas colocadas por SAFRAS anteriormente.

     A safra de arábica foi colocada pela Conab em 32,4 milhões de sacas em 2022, contra 31,44 milhões de sacas em 2021, aumento de 3,1%. Anteriormente a Conab estimava no segundo levantamento 35,7 milhões de sacas. Já a safra 2022 de conilon é indicada em 17,97 milhões de sacas, crescimento de 10,3% em relação a 2021 (16,292 milhões de sacas). Anteriormente a Conab apontava produção de 17,7 milhões de sacas.

     “Uma safra menor no Brasil deve resultar em fluxo menor de exportação e estoques muito baixos ao final do ciclo comercial 2022/23. A pouca disponibilidade ajuda a erguer um fundo aparente acima de 210 cents em NY, o que mantém o mercado afastado da referência psicológica de 200 cents”, comenta. Porém, a demanda fraca serve como contraponto às investidas de alta, criando um teto em 230 cents. “O freio na atividade mundial e os crescentes sinais de recessão em economias consolidadas como EUA e, principalmente, na Europa, gera temores em torno do consumo, que afeta de forma direta o mercado de café. É bom lembrar que os EUA são o principal consumidor individual de café. Já a Europa é a principal região consumidora da bebida, responsável por 32% do total mundial”, indica. Ao somar o Norte da América e a Europa a participação no consumo supera 50%, segundo dados da OIC (Organização Internacional do Café).

Enquanto a instabilidade financeira serve de justificativa para a volatilidade nos preços de café, o foco do mercado já migrou para a safra 2023 do Brasil, diz o consultor de SAFRAS & Mercado. Ele coloca que os operadores na ICE US buscam assimilar a menor safra deste ano no Brasil. Mas, a atenção maior é direcionada aos sinais da safra futura brasileira. “Nesse sentido, a previsão de chuvas para a 2ª quinzena de setembro associada a projeções de chuva em bom volume também ao longo do mês de outubro cria um ambiente mais favorável, que reforça a ideia de safra cheia no Brasil no próximo ano”, diz.

     No balanço dos últimos sete dias, entre as quintas-feiras 15 e 22 de setembro, o contrato dezembro em NY subiu de 216,40 centavos de dólar por libra-peso para 223,55 cents, valorização de 3,3%.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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