Volatilidade segue intensa às vésperas da entrada da safra brasileira de café

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Porto Alegre, 17 de março de 2023 – A volatilidade seguiu intensa no mercado internacional de café nesta última semana. A Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica, que baliza a comercialização internacional, atingiu os patamares mais baixos em 6 semanas e depois encontrou reação e chegou a trabalhar acima de US$ 1,80 a libra-peso. A apreensão com o mercado financeiro americano e global, com a falência de 2 bancos americanos e temores envolvendo o Credit Suisse e outras instituições, pesou sobre as commodities. Nos fundamentos, a safra brasileira se avizinha, com a colheita iniciando em breve no conilon e adiante no arábica, o que exerce pressão sobre as cotações.

Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a agitação no mercado financeiro internacional trouxe muita volatilidade ao preço do café na ICE US, e a posição maio/2023 oscila dentro de um intervalo amplo entre 170 e 180 cents em NY. “Embora a incerteza financeira tenha elevado a amplitude na oscilação dos preços, a inclinação na curva de preços é mais negativa desde o pregão do último dia 22 de março, quando atingiu máxima de 194 cents. E esse viés é justificado pela maior presença vendedora”, comenta.

Para ele, esta agitação financeira acabou impactando os mercados. O petróleo desabou, influenciado também pelos estoques mais elevados, o que acabou puxando o índice CRB para baixo. A moeda norte-americana subiu forte, com DXY voltando a se aproximar dos 105 pontos e dólar contra o real a trabalhar acima de R$ 5,30. “O café, depois do tombo inicial, mostra reação, especialmente nas posições mais curtas. E o aumento da volatilidade pode trazer oportunidades”, ressalta.

Barabach coloca que os primeiros 2 meses de 2023 foram de ganhos expressivos para o café no mercado mundial, com a 2ª posição na ICE US acumulando alta próxima a 12%. “E a performance da bebida foi destaque entre as commodities. Na verdade, o café se recuperava das perdas acumuladas, especialmente no último trimestre do ano passado, diante da expectativa com a safra brasieleira 2023 cheia no Brasil. O balizamento para a alta foi a pouca disponibilidade física, especialmente no Brasil”, afirma. A safra baixa de arábica colhida no passado e a postura retraída dos vendedores criavam um ambiente de diferenciais mais fortes no porto, que acabaram ajudando a dar impulso ao movimento corretivo em bolsa.

O consultor comenta que a sensação era que faltava café e o vendedor controlava o mercado. Só que esse movimento não era reproduzido para as posições mais distantes, que envolviam a próxima brasileira. O vencimento Set/23, inclusive, aumentava a distância negativa em relação ao contrato spot na ICE US. Além disso, os diferenciais de safra nova também estão mais fracos que o disponível, descreve. “A escalada dos preços, com arábica nova-iorquino indo acima de 190 cents, acabou atraindo o interesse de venda. Paralelamente, a safra brasileira 2023 já começa a ficar mais perto. Com isso, houve uma inversão de postura, com vendedor mostrando mais interesse que o comprador. E, naturalmente, isso acabou se refletindo negativamente contra o preço”, avalia.

Já a crise bancária internacional traz uma variável a mais de incerteza no mercado, que afeta de forma mais significativa os cenários de consumo. “Inflação alta, juros caros e queda no poder aquisitivo devem manter a demanda na defensiva. O medo de recessão volta ao radar em 2023 e pode desmontar a expectativa de um 2º semestre mais positivo para a economia global”, adverte. Essa mudança naturalmente afeta a postura do comprador e mexe com o mercado, elevando a pressão negativa sobre os preços.

No balanço da semana em NY, o contrato maio do arábica subiu de 175,05 para 180,05 centavos de dólar por libra-peso no comparativo dos fechamentos das quintas-feiras 09 e 16 de março, alta de 2,9%. Mas, em Londres, o robusta para maio no mesmo comparativo caiu 2,95%.

No mercado físico brasileiro, no balanço semanal entre 09 e 16 de março, o arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu de R$ 1.090,00 para R$ 1.150,00 a saca na base compradora, valorização de 5,5%. O dólar comercial ajudou esse aumento, tendo avançado na semana 1,9%. Mas, o conilon tipo 7 em Vitória/Espírito Santo ficou em R$ 615,00 a saca, baixa de 6,8% na semana, já refletindo a chegada da safra brasileira de conilon.

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      Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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