São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) reduziu sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual nesta quinta-feira. A decisão, unânime entre os membros do Conselho de Governo, ocorre em meio a um cenário de desaceleração econômica na zona do euro, agravado pelas tensões comerciais globais e pela expectativa de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Em coletiva após a decisão, a presidente do BCE, Christine Lagarde, enfatizou que o contexto atual é marcado por uma “incerteza excepcional” e que não há espaço para avaliações tradicionais sobre a política monetária, como o conceito de taxa neutra. “Essa é uma ideia que só se aplica a um mundo sem choques – e não é o mundo em que estamos vivendo”, afirmou.
Efeitos das tarifas dos EUA
Lagarde evitou comentar diretamente a escalada tarifária iniciada pelos EUA, mas reconheceu que o impacto será amplamente negativo e desigual entre os países. “Haverá redirecionamento de comércio e pressões adicionais sobre o crescimento e a inflação”, disse. O BCE projeta que a combinação de tarifas, queda dos preços globais de energia e valorização do euro pode pressionar ainda mais a inflação para baixo.
As medidas protecionistas já provocam interrupções no comércio global, o que, segundo Lagarde, amplia os riscos negativos para o crescimento europeu. “A deterioração do sentimento nos mercados financeiros pode levar a condições de financiamento mais restritivas e frear o consumo e o investimento.”
Confiança e previsibilidade
A presidente do BCE destacou que a confiança dos agentes econômicos é fundamental neste momento. “Previsibilidade e um nível razoável de certeza são fatores importantes para que decisões econômicas sejam tomadas, e é nosso dever garantir isso.”
Apesar do corte nos juros, Lagarde foi enfática ao afirmar que o Conselho não discutiu a adoção de novos estímulos. “Vamos manter a postura apropriada para garantir que cumpriremos nosso compromisso de atingir a meta de inflação de 2%. Mas isso será feito com base em dados confiáveis, reunião por reunião.”
Relação com o Fed e caminho incerto
Questionada sobre a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Lagarde reforçou o bom relacionamento com o presidente da autoridade monetária dos EUA, Jerome Powell, e afirmou que esse diálogo é essencial para preservar a estabilidade financeira global. No entanto, evitou qualquer indicação sobre os próximos passos da política monetária europeia. “Não vou comentar sobre a direção da viagem, apenas sobre o destino – e nosso destino é a meta de 2%”, disse.
Debate interno e foco em agilidade
A decisão desta quinta-feira foi precedida por um debate interno intenso, segundo Lagarde. “Alguns membros consideraram pular o corte, outros cogitaram um movimento mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, mas o consenso foi em torno do 0,25 ponto percentual.” Ela destacou que, diante de choques constantes, como mudanças políticas na Alemanha e incertezas fiscais, o BCE deve manter uma postura marcada por dois pilares: prontidão e agilidade.
Lagarde também defendeu a necessidade de políticas fiscais e estruturais mais eficazes, diante dos limites da política monetária. “É ainda mais urgente que a zona do euro se torne mais produtiva, competitiva e resiliente”, afirmou, ressaltando que o aumento dos gastos com defesa e infraestrutura poderia ajudar a impulsionar o crescimento.
Com o cenário ainda em mutação, uma vez que a trégua tarifária norte-americana termina apenas em julho, o BCE sinaliza que não tomará decisões prematuras. “Não há melhor momento para depender de dados”, disse Lagarde.
Larissa Bernardes / Safras News
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