Logo (4)
COTAÇÕES
Dólar
Euro

Superoferta global de trigo em 2025 evidencia fragilidades do mercado brasileiro

Trigo

Links deste artigo

Porto Alegre, 26 de dezembro de 2025 – O ano de 2025 consolidou-se como um dos períodos mais desafiadores para a cadeia do trigo brasileiro na última década, ao mesmo tempo em que o mercado internacional operou sob oferta amplamente confortável, estoques elevados e preços estruturalmente pressionados. A avaliação é do analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.

“Essa combinação reforçou a vulnerabilidade do mercado interno à concorrência externa e limitou a capacidade de formação de preços ao longo de praticamente todo o ano”, apontou.

No Brasil, a produção manteve-se relativamente estável, oscilando entre 7,4 e 7,8 milhões de toneladas, apesar de uma forte retração da área plantada, estimada entre 15% e 25%, para algo próximo de 2,3 a 2,5 milhões de hectares. Conforme o analista, a decisão de reduzir área foi consequência direta de margens negativas recorrentes, elevação expressiva dos custos de produção (entre 30% e 60% acumulados nos últimos anos), riscos climáticos consecutivos e maior competitividade de culturas alternativas como milho e sorgo.

A produtividade média nacional apresentou ganho relevante, próximo de 19%, o que evitou uma queda mais acentuada da produção. “No entanto, o comportamento foi altamente heterogêneo. O Centro-Oeste e Sudeste, especialmente Minas Gerais, registraram desempenho técnico próximo do ideal, enquanto o Sul enfrentou severas perdas qualitativas e produtivas, causadas por geadas no Paraná e excesso de chuvas no Rio Grande do Sul”, relatou Oliveira.

O Paraná, tradicionalmente deficitário, produziu cerca de 2,6 a 2,7 milhões de toneladas, frente a uma necessidade de moagem próxima de 3,8 milhões, ampliando o déficit estrutural. O Rio Grande do Sul, mesmo com produção entre 3,1 e 3,5 milhões de toneladas, enfrentou problemas de qualidade e logística, limitando o potencial de absorção doméstica. O resultado foi um abastecimento interno apertado, sobretudo em regiões consumidoras, o que sustentou a dependência de importações ao longo de todo o ano.

Os preços internos seguiram uma tendência baixista predominante em 2025, com média anual entre R$ 1.100 e R$ 1.500 por tonelada, encerrando o ano mais próximos da banda inferior desse intervalo. Após um início de ano com viés altista pontual, que foi reflexo do baixo saldo remanescente da safra anterior, com preços no Paraná entre R$ 1.460 e R$ 1.500/t e no Rio Grande do Sul ao redor de R$ 1.360/t, o mercado perdeu sustentação a partir do segundo trimestre.

Oliveira relembrou que, a partir de março e abril, a pressão internacional se intensificou, com Chicago testando mínimas ao redor de US$ 5,05/bushel, ao mesmo tempo em que o câmbio e a paridade de importação favoreceram a entrada do trigo argentino, com preços entre US$ 223 e US$ 240/t FOB. Entre maio e junho, as cotações internas recuaram entre 6% e 8%, refletindo real mais forte, oferta externa abundante e moinhos amplamente abastecidos.

“No segundo semestre, o mercado entrou em lateralização com viés baixista, com novas quedas entre setembro e outubro (até 10,7% no Paraná e cerca de 4% no Rio Grande do Sul) durante a transição de safra. O encerramento do ano ocorreu sob preços majoritariamente nominais, baixa liquidez e expectativa de intervenção governamental, com moinhos operando com margens elevadas, estimadas em até 41%, reforçando a ausência de urgência compradora”, analisou o especialista de Safras.

O principal destaque estrutural de 2025 foi o volume recorde de importações brasileiras, estimado entre 7,0 e 7,3 milhões de toneladas, o maior da série histórica. A Argentina respondeu por 80% a 98% desse total, consolidando-se como fornecedora quase exclusiva, beneficiada por preços competitivos e pela proximidade logística. “O mercado brasileiro ficou fortemente dependente do trigo argentino ao longo de todo o ano”, afirmou Oliveira. O Paraguai também teve participação relevante em momentos pontuais, com embarques superiores a 1,4 milhão de toneladas, direcionados majoritariamente ao Brasil.

As exportações brasileiras permaneceram concentradas no Rio Grande do Sul, com volumes entre 1,8 e 2,0 milhões de toneladas, insuficientes para equilibrar o mercado interno. Problemas de qualidade limitaram a competitividade do produto nacional, com descontos de até 20% para trigo destinado à ração. No acumulado, os embarques externos recuaram cerca de 29% em relação a ciclos anteriores. “Mesmo com exportações ativas no Sul, o saldo seguiu claramente deficitário”, destacou o analista.

Oferta global abundante dominou o mercado externo

No cenário internacional, 2025 foi marcado por produção recorde e estoques elevados. As estimativas finais indicaram produção global entre 837 e 838 milhões de toneladas e estoques próximos de 275 milhões, elevando a relação estoque/consumo e mantendo pressão sobre as bolsas. Rússia, Argentina, Austrália e Canadá lideraram a expansão da oferta, com a Rússia consolidando exportações entre 44 e 45 milhões de toneladas. “A abundância global neutralizou riscos geopolíticos e limitou qualquer reação mais consistente dos preços”, avaliou Oliveira.

Apesar de episódios pontuais de tensão no Mar Negro e disputas comerciais, o mercado operou majoritariamente em patamares historicamente baixos em Chicago, com altas restritas a movimentos técnicos. Para o especialista, “o pano de fundo foi de excesso de oferta durante praticamente todo o ano”.

Resumidamente, 2025 combinou abundância global com fragilidade doméstica. Embora o trigo tenha mostrado resiliência produtiva em algumas regiões brasileiras, o país evidenciou elevada vulnerabilidade à concorrência externa, em um contexto de custos elevados, riscos climáticos recorrentes e indústria concentrada.

“O ano termina com um mercado dependente de importações, preços comprimidos e baixa liquidez”, concluiu Oliveira, acrescentando que 2026 exigirá avanços em política agrícola, eficiência produtiva e qualidade para reequilibrar o setor.

Ritiele Rodrigues – ritiele.rodrigues@safras.com.br (Safras News)

Copyright 2025 – Grupo CMA

Compartilhe

  • Deixe uma resposta
    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *
PLATAFORMA SAFRAS

RELACIONADOS

  • Todos
  • Açúcar
  • Açúcar e Etanol
  • Agenda da Semana
  • Agricultura de Precisão
  • Agronegócio
  • Algodão
  • Arroz
  • Biodiesel
  • Blog Açúcar
  • Blog açúcar e etanol
  • Blog Agricultura de Precisão
  • Blog Algodão
  • Blog Arroz
  • Blog Biodiesel
  • Blog boi
  • Blog Café
  • Blog clima
  • Blog Feijão
  • Blog Fertilizantes
  • Blog Frango
  • Blog Milho
  • Blog Plataforma Safras
  • blog safras
  • Blog Soja
  • blog suíno
  • Blog Trigo
  • Boi
  • Café
  • Clima
  • Destaque
  • Economia
  • Economía
  • Empresas
  • Empresas
  • Feijão
  • Fertilizantes
  • Financeiro
  • Frango
  • Mercado
  • Milho
  • Plataforma Safras
  • SAFRAS Podcast
  • SAFRAS TV
  • Sem categoria
  • Social BR
  • Social Latam
  • Soja
  • Suíno
  • Trigo

Ganhe uma visão uniforme e aprofundada do agronegócio com a Plataforma Safras: acesse análises, preços comerciais, fretes, paridades, estatísticas, indicadores, notícias, gráficos e baixe relatórios em um único lugar!

TUDO SOBRE O AGRONEGÓCIO

 GLOBAL EM UM SÓ LUGAR

Ver Pacotes
Group 139 1

CADASTRE SEU E-MAIL E FIQUE POR DENTRO DAS INFORMAÇÕES SOBRE O AGRONEGÓCIO.

Cadastrar