Spread aumenta e trava mercado doméstico de algodão no fim de março

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Imea

     Porto Alegre, 1 de abril de 2022 – O spread entre a base compradora e a vendedora aumentou e travou os negócios no final de março. O produtor seguiu com ideia de preço entre R$ 7,20 a R$ 7,25 por libra-peso no dia 31 de março, mas a indústria recuou. A indicação no CIF do polo industrial paulista ficou em R$ 7,15 por libra-peso. Em 30 dias, a elevação foi de 2,88%. Em relação ao mesmo período do ano anterior, os ganhos acumulados eram de 50,38%.

     Os números da safra de algodão do Brasil foram ajustados, com o término do plantio. Agora, SAFRAS & Mercado trabalha com área semeada de 1,56 milhão de hectares na temporada 2021/22, o que corresponde a um crescimento de 14% em relação ao ano anterior. Destaque ao Mato Grosso, que responde por 71% do total. A Bahia participa com 20%. Os dois estados juntos representam 91% da área semeada com algodão no Brasil. “A janela ideal para plantio de 2ª safra de algodão, diante do desenvolvimento mais acelerado da soja, e os preços altos do algodão no mercado internacional justificaram o forte avanço de área”, explica o analista de SAFRAS & Mercado, Gil Carlos Barabach.

     Já a produção de algodão em pluma é projetada em 2,838 milhões de toneladas em 21/22, o que corresponde a um incremento de 17% em relação ao ano anterior. O Mato Grosso, responde por 70%, enquanto a Bahia, por 21%. A colheita de algodão da safra 21/22 começa em maio, ganhando intensidade a partir de junho.

     O crescimento na produção de algodão em pluma permite uma retomada da demanda na temporada 21/22. “Porém, as projeções de crescimento de consumo tanto externo como aqui dentro são modestas”, pondera Barabach. Na cena externa, pesam contra a demanda a inflação, os juros mais altos e a queda de renda. “A guerra na Ucrânia potencializa cenários mais pessimistas para o consumo”, acrescenta.

     Já no Brasil, a projeção de crescimento muito baixo do PIB, dentro de um quadro de avanço da inflação, acentua a perda de renda e afeta as projeções de consumo de algodão. “É bom lembrar que o consumo de algodão em pluma é muito sensível a variação da renda e preço”, frisa o analista. 

     Aqui dentro, há a expectativa de alguma acomodação negativa na curva de preço a partir do avanço na oferta de algodão novo de maio em diante. “E isto pode servir como uma atenuante aos sinais fracos da demanda”, comenta Barabach. Já os problemas na safra norte-americana, ao contrário, podem elevar ainda mais o preço do algodão no mercado internacional e ajudar a puxar para cima o sarrafo da paridade de exportação do algodão brasileiro. Esta referência serve de base para os preços praticados internamente, particularmente na entrada da safra. E uma elevação nos preços físicos internos pode ter um natural reflexo negativo sobre o consumo.

     “Diante destas incertezas, a projeção é de crescimento bastante modesto da demanda”, explica o analista. A exportações devem girar em torno de 2,06 milhões de toneladas, contra 2,02 milhões no ciclo anterior – alta de 2,2%. Já o consumo doméstico pode chegar a 735 mil toneladas, um incremento de 2,1%. Um crescimento na produção acima do consumo gera excesso, que deve ser refletir em estoques 3% mais altos, projetados em 1,78 milhão de toneladas ao final da temporada 21/22.

     Rodrigo Ramos (rodrigo@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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