São Paulo – A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo suas projeções de crescimento da demanda por petróleo, apenas dias após anunciar um inesperado aumento na produção da commodity. A mudança de perspectiva ocorre em meio à intensificação das tensões comerciais globais, impulsionadas por novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, e aos temores de uma recessão econômica.
Segundo o cartel sediado em Viena, a demanda mundial por petróleo deverá crescer 1,3 milhão de barris por dia em 2025 – abaixo dos 1,45 milhão estimados anteriormente. Para 2026, a previsão também foi reduzida: de 1,43 milhão para 1,28 milhão de barris diários.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira, a organização reconheceu que o consumo global segue apoiado na “forte demanda por viagens aéreas e na mobilidade rodoviária saudável”, mas alertou para os riscos crescentes no cenário macroeconômico. “Essa previsão está sujeita às incertezas em torno dos desenvolvimentos econômicos globais em meio às novas tarifas comerciais anunciadas pelos EUA”, afirmou o órgão.
Na semana passada, os preços do petróleo registraram o menor patamar em quatro anos, pressionados pela onda de aversão ao risco nos mercados financeiros. O temor de que as tarifas estadunidenses desencadeiem uma recessão global alimentou a liquidação de ativos e reforçou as dúvidas quanto à recuperação da demanda por petróleo bruto.
Enquanto isso, a Opep e seus aliados (Opep+) decidiram inesperadamente aumentar a oferta em 411 mil barris por dia em maio, o equivalente a três aumentos mensais conforme seus planos anteriores. A medida pressionou ainda mais os preços do petróleo bruto, afetados pelas tarifas, alimentando preocupações com um excedente global de oferta.
Apesar dos ajustes, a previsão da Opep para a demanda continua mais otimista do que a de outras instituições do setor. A Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo, estima que o crescimento deste ano será de apenas 1,03 milhão de barris por dia.
As políticas tarifárias abrangentes do presidente dos EUA, Donald Trump, também estão pesando sobre a economia global. Em resposta, a Opep reduziu sua previsão de crescimento econômico global para 3% em 2025 e 3,1% em 2026 – ante projeções anteriores de 3,1% e 3,2%.
“O crescimento econômico global começou em 2025 com fundamentos sólidos e resiliência nas principais economias”, afirmou o cartel. “No entanto, desenvolvimentos recentes nas relações comerciais globais alteraram a perspectiva e introduziram novas incertezas em meio a uma crescente escalada de tarifas entre os EUA e a China.”
A Opep também cortou suas projeções para as principais economias. O crescimento do PIB dos Estados Unidos em 2025 foi reduzido de 2,4% para 2,1%, enquanto a estimativa para 2026 caiu para 2,2%. Na zona do euro, as projeções são ainda mais modestas: 0,8% em 2025 e 1,1% no ano seguinte.
Em março, a produção total de petróleo bruto da Opep recuou 78.000 barris por dia, atingindo 26,78 milhões de barris diários. Já a produção conjunta dos países da Declaração de Cooperação (DoC), a aliança formalmente conhecida como Opep+, caiu 37.000 barris por dia no mês passado, totalizando 41,02 milhões de barris.
No entanto, a aliança enfrenta desafios de conformidade. Países como Cazaquistão e Emirados Árabes Unidos continuam descumprindo metas de produção. O Cazaquistão, por exemplo, aumentou sua produção em 37.000 barris por dia em março, alcançando 1,85 milhão de barris por dia.
Por fim, a Opep também revisou para baixo sua estimativa de crescimento da oferta de países que não integram o pacto da DoC. Para 2025 e 2026, a organização prevê uma expansão de 900 mil barris por dia, puxada principalmente por EUA, Brasil, Canadá e Argentina.
