Oferta ajustada gera cenário desafiador nos EUA, diz analista da U.S. Wheat

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     Porto Alegre, 15 de agosto de 2023 – Os preços do trigo dos Estados Unidos devem seguir em patamares elevados devido ao aperto da oferta. Tomando como base o trigo hard vermelho de inverno, o mais produzido no país, e negociado na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), a situação é bastante ajustada, pois a cultura vem de dois anos consecutivos de seca. A alta nas cotações resulta numa redução na demanda pelo produto.

     A analista de mercado da U.S. Wheat Associates, Tyllor Ledford, que concedeu entrevista exclusiva à Agência SAFRAS, tem a esperança de que a safra do ano que vem seja maior. Por enquanto, o quadro segue desafiador. A volatilidade é o maior risco, no momento. “Por isso, falamos aos nossos clientes sobre a importância do gerenciamento de risco”, disse.

Variações exageradas

     A CBOT é referência na formação internacional de preços. Ainda que o Brasil importe predominantemente o trigo soft, variedade negociada na Bolsa de Kansas, as oscilações de Chicago impactam diretamente nos movimentos do mercado brasileiro.

     Ledford explica que a CBOT é mais líquida: é através dela que muitas instituições financeiras se posicionam no mercado, e não necessariamente precisam comprar ou vender a commodity. Devido a essa liquidez e ao volume de agentes negociando, suas variações são mais exageradas na comparação com Kansas, por exemplo.

Guerra na Ucrânia

     A analista observa que os preços globais do trigo dependem do cenário macroeconômico mundial, levando em consideração as tensões geopolíticas, o clima nos principais países produtores, além de oferta e demanda. Atualmente, no entanto, o que vem comandando os movimentos é a guerra na Ucrânia.

     O vice-presidente de comunicações da U.S. Wheat, Steve Mercer, também participou da entrevista e concorda que as questões envolvendo a oferta já estão bem definidas. “Meu sentimento é de que Putin espirra e o preço muda”.

Pressão sazonal

     Sobre a tendência para o movimento dos preços nos Estados Unidos até o fim da colheita, a analista, Tyllor Ledford, acredita em uma pressão sazonal de oferta, mas, ao mesmo tempo, muitos dos compradores internacionais do trigo estadunidense estão esperando o encerramento dos trabalhos para tomarem suas decisões de compra.

     “Vemos muitos dos clientes segurando as compras até terem mais informações sobre a safra e sobre as características de qualidade. Isso é diferente de anos anteriores, quando alguns reservavam carregamentos com seis meses de antecedência. Agora, com a volatilidade, eles esperam”, explicou. “Por isso, é difícil dizer como os preços vão se movimentar. É mais fácil prever a cotação doméstica, que não sente tanto os efeitos da geopolítica global”, salientou.

     A menor demanda externa pelo trigo dos Estados Unidos deve ajudar a preservar os estoques do país. “Quando as taxas estoque-consumo começam a cair, o mercado fica desconfortável. Nos últimos anos, vimos uma demanda superando os estoques nos EUA”, ela acredita que ainda há muito para acontecer, em especial com a colheita de primavera ainda em estágios iniciais no país.

     Sem a ocorrência de eventos climáticos extraordinários, a tendência é de queda sazonal nos preços do país. Mesmo assim, as cotações seguiriam elevadas em relação a anos anteriores e ao concorrente trigo russo.

Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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