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O ano em que o mercado de arroz rompeu seu próprio limite

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Porto Alegre, 26 de dezembro de 2025 – O ano de 2025 consolidou-se como um dos períodos mais críticos da história recente da orizicultura brasileira, marcado por desequilíbrio estrutural profundo entre oferta, demanda e preços, colapso de rentabilidade ao longo da cadeia e incapacidade do mercado interno de absorver o volume produzido, mesmo diante de quedas históricas de preços. A constatação é do analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira.

 

O ano iniciou sob um equilíbrio extremamente frágil, sustentado mais por resistência vendedora do que por força real de demanda. No Rio Grande do Sul, os preços ainda orbitavam a casa de R$ 100 por saca de 50 quilos, mas já se encontravam desconectados dos fundamentos, dado um custo de produção estimado entre R$ 80 e R$ 90/saca. “A liquidez era baixa, com negócios pontuais, enquanto os produtores liberavam volumes mínimos apenas para honrar despesas imediatas”, lembra o consultor.

 

A indústria, por sua vez, encontrava-se confortavelmente abastecida por estoques de passagem próximos de 1 milhão de toneladas, adotando postura defensiva e sem agressividade na originação. O varejo seguia estagnado, com repasses limitados e promoções iniciais, sinalizando que o consumo não reagiria mesmo diante de eventuais reduções de preço. “O início da colheita na Fronteira Oeste ainda não pressionava a oferta, mas já indicava um ano de alta produtividade”, acrescenta.

 

Entre fevereiro e março, a crise começou a se materializar de forma mais clara. “Os preços passaram a registrar quedas consistentes semanais, mensais e anuais, com a média da saca gaúcha recuando de quase R$ 100 para menos de R$ 80”, exemplifica o analista. A liquidez permaneceu extremamente limitada, com compradores retraídos aguardando novas desvalorizações.

 

A colheita ganhou ritmo acelerado, especialmente no Rio Grand do Sul, Santa Catarina e no Centro-Oeste, ampliando a oferta em um momento em que a demanda interna já demonstrava clara incapacidade de absorção. As margens produtoras tornaram-se negativas em diversas regiões, enquanto a indústria passou a operar com ociosidade crescente (40% a 50%), comprando apenas o estritamente necessário. O varejo manteve preços agressivos ao consumidor final (R$ 15–18/5 kg), mas sem reação relevante no volume vendido, evidenciando uma demanda estruturalmente enfraquecida.

 

O segundo trimestre marcou a consolidação da crise. “Mesmo com a desaceleração da colheita e maior retenção por parte dos produtores, os preços continuaram pressionados, atingindo patamares entre R$ 77 e R$ 65 por saca”, pontua Oliveira. A safra 2024/25 confirmou produtividades excepcionalmente altas no Sul (exceto Paraná), acima de 9.000 kg/ha, elevando a produção nacional em um contexto de baixo consumo.

 

Os estoques de passagem tornaram-se uma preocupação crescente já neste período, configurando um excesso estrutural claro. A indústria passou a operar com margens negativas severas, reduzindo turnos e elevando a ociosidade para mais de 50%. O varejo intensificou promoções agressivas, com inacreditáveis R$ 12/5 kg, mas o efeito sobre o consumo foi marginal, reforçando a percepção de que o problema não era preço, mas sim demanda. “O mercado entrou em um ciclo de paralisia, com liquidez mínima e negociações pontuais”, lamenta

 

Na abertura da segunda metade do ano, o mercado entrou em lateralidade técnica, com pequenas reações pontuais incapazes de alterar a tendência de fundo. Os preços oscilaram entre R$ 60 e R$ 70/saca, com quedas anuais superiores a 40% em diversas praças. A crise passou a afetar de forma sistêmica a cadeia: produtores fortemente descapitalizados, mantendo retenção elevada, mas pressionados por vencimentos financeiros. Indústria com enorme capacidade ociosa, margens negativas persistentes e dificuldade de honrar compromissos. Já o varejo apresentando redução de espaço em gôndola e foco em produtos de maior giro e rentabilidade.

 

Diante desse cenário, tornou-se inevitável a discussão sobre redução de área para a safra 2025/26, com cortes entre 8% e 12% no Rio Grande do Sul e estados como o Tocantins podendo chegar até 50%, além de potencial retração ainda mais intensa nas áreas de sequeiro.

 

“A reta final do ano consolidou 2025 como um dos piores anos da história da orizicultura brasileira”, relata o analista. Os preços atingiram níveis aviltantes entre R$ 48 (padrão indústria) e R$ 57/saca (produto nobre), amplamente abaixo dos custos de produção (R$ 75 a R$ 90/saca) e até inferiores ao mínimo oficial (R$ 63,64/saca no Sul, exceto Paraná). A liquidez praticamente desapareceu, caracterizando um marasmo profundo típico de fim de ano, agravado pelo excesso de estoques remanescentes.

 

O plantio da safra 2025/26, destaca o consultor, confirmou uma redução nacional de área para algo entre 1,5 e 1,6 milhão de hectares, mas sem impacto imediato sobre preços, uma vez que o mercado permanece dominado pela herança do gigantesco excedente da safra 2024/25, estimado em mais de 2,3 milhões de toneladas.

 

Veja mais sobre o mercado de arroz:

 

Rodrigo Ramos/ Agência Safras News

 

Copyright 2025 – Grupo CMA

 

 

 

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