Mercado futuro “invertido” do café segue mostrando apreensão com oferta no curto prazo

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Porto Alegre, 26 de janeiro de 2023 – O mercado internacional do café voltou a ter uma semana positiva nos preços nas bolsas de futuros de Nova York (ICE Futures US) para o arábica e de Londres para o robusta. Destaque para o robusta, que está com cotações em patamares históricos de alta, nos níveis mais elevados em 16 anos. Tanto em um terminal quanto no outro, o mercado mostra-se “invertido”, com os contratos mais próximos com cotações mais elevadas que os mais distantes, mostrando uma apreensão com a oferta no curto prazo.

Normalmente, nas bolsas de futuros de commodities os contratos mais distantes mostram preços mais altos que os mais próximos, por isso diz-se que o mercado mostra-se nesse momento invertido para o café. A perspectiva futura leva o mercado a crer numa oferta melhor, enquanto há um aperto no curto prazo.

Em NY, o contrato março voltou nesta sexta-feira a trabalhar acima de 190 centavos por libra-peso. Os demais contratos seguem abaixo desta importante linha técnica e psicológica, sinal desta inversão no comportamento normal do mercado futuro.

O consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que o mercado de café segue agitado e bastante volátil. “A vulnerabilidade financeira e os receios com o abastecimento de café robusta balizam os movimentos nos preços. Em linhas gerais, o café arábica no terminal em NY encontra algum suporte na alta do petróleo e na valorização do robusta em Londres”, comenta. Mas, Barabach diz que o mercado continua mostrando fragilidade para sustentar ganhos diante de uma indústria mundial que continua se posicionando de forma lenta e compassada, e dos sinais mais positivos para a próxima safra brasileira.

Embora a volatilidade ainda possa persistir no curto prazo, pautada especialmente em posicionamento conservador dos fundos, que buscam proteção em commodities por conta das incertezas financeiras e receio em torno das escaladas dos conflitos no Oriente Médio e Europa, o direcional de médio e longo prazo deve ficar atrelado aos fundamentos, aborda o consultor de SAFRAS. “O principal determinante fundamental é o tamanho da próxima safra brasileira, A ideia é que a safra 2024 será maior que a colhida em 2023, com recuperação da produção de conilon e um novo aumento no arábica. E, lógico, isso indica pressão negativa futura sobre as cotações”, analisa. Não à toa há o spread invertido entre os vencimentos do café na bolsa de NY, sinalizando a expectativa de melhora futura na oferta, indica o consultor.

No caso do robusta, o quadro é de maior aperto no curto prazo, o que deve continuar oferecendo sustentação aos preços e mexendo com a arbitragem NY/Londres. “Além da frustração com a safra do Vietnã e os problemas logísticos no Canal de Suez, a revisão para baixo na safra de conilon do Brasil também compõe esse quadro. Em todo caso, o mercado já acumula forte valorização, voltando a ficar próximo do chamado gatilho técnico de troca da indústria entre os cafés arábica e robusta”, comenta Barabach.

Em Londres, o sinal futuro para curva de preços também é negativo, diante da expectativa de uma produção maior na Indonésia e no Brasil, que iniciam safra entre abril e maio, coloca Barabach. Ele diz que também é natural trabalhar com um cenário de volta ao normal na produção do Vietnã, depois de dois anos seguidos de frustração produtiva. E, assim, esperar uma safra da principal origem de robusta entre 30 a 31 milhões de sacas, bem superior as 27 milhões de sacas atuais. A exemplo do arábica em NY, a curva entre os vencimentos do robusta em Londres também está invertida, sinalizando a expectativa de melhora futura no abastecimento.

SOLÚVEL

Os brasileiros consumiram o volume recorde de 24,248 mil toneladas (equivalentes a 1,05 milhão de sacas de 60 kg) de café solúvel no ano passado, o que representou evolução de 5,2% em relação a 2022 e implicou o oitavo avanço anual consecutivo na série histórica. Os dados fazem parte do relatório anual divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics).

Já as importações de café solúvel de todos os tipos, 100% realizadas pelas empresas filiadas à entidade, tiveram queda significativa de 32,7% ante 2022, recuando a 423,4 toneladas, ou 18.345 sacas. “É um volume pequeno, mas que ajuda na oferta de mais opções aos consumidores brasileiros”, comenta o diretor de Relações Institucionais da Abics, Aguinaldo Lima.

Os embarques de café solúvel do Brasil somaram 86,516 mil toneladas (3,7 milhões de sacas) em 2023, registrando leve alta de 0,4% na comparação com o volume remetido ao exterior de janeiro a dezembro de 2022. A receita cambial obtida com as remessas do produto ao exterior totalizou US$ 701,3 milhões, apresentando recuo de 1,1% no mesmo intervalo comparativo.

O principal destino do café solúvel brasileiro no ano passado foram os Estados Unidos, que adquiriram 16,205 mil t, ou 9,2% a menos do que um ano antes. Na sequência, vêm Argentina, com a importação de 8,273 mil t (+18,6%); Japão, com 5,350 mil t (+23,4%); Indonésia, com 5,219 mil t (-15,7%); e Finlândia, com 5,034 mil t (+38,8%).

A Rússia, grande cliente do Brasil há décadas, sempre ocupando as primeiras posições no ranking dos principais destinos, caiu para o 19º lugar em 2023, com o desempenho sendo impactado pela continuidade da guerra contra a Ucrânia. No ano passado, os russos importaram 1,310 mil t, aferindo queda de 58% frente às 3,117 mil t registradas em 2022.

“Contudo, a despeito das restrições internacionais, é possível que seu abastecimento com café solúvel venha sendo complementado por alguns países vizinhos, como a Finlândia, que, de comprador residual do produto brasileiro, passou a figurar na sexta posição, em 2022, e na quinta posição em 2023”, pondera o diretor da Abics.

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     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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