Porto Alegre, 5 de setembro de 2025 – O mercado do feijão encerrou agosto dividido entre duas realidades: de um lado, o grão carioca, que mantém firmeza apoiado pela seletividade e pela oferta restrita; de outro, o preto, que enfrenta um colapso de preços diante do forte excedente de produção.
Segundo o analista Evandro Oliveira, de Safras & Mercado, os pregões da Bolsa do Brás foram marcados por volumes reduzidos, muitas vezes compostos por sobras, e negociações concentradas em embarques programados. “A postura firme dos produtores e corretores em limitar as ofertas evitou sobras e manteve o viés de firmeza”, explicou.
No caso do feijão carioca, a oferta predominante foi de grãos mais claros (notas 8,5 a 9,5), vindos sobretudo de lavouras irrigadas de Minas Gerais e Goiás. A participação do Paraná diminuiu de forma significativa, o que deixou os feijões comerciais (notas 7,5 e 8) escassos e valorizados. Os negócios para esse padrão ocorreram entre R$ 180 e R$ 215/saca. Já os grãos extras (9 e 9,5 peneira 12) se mantiveram firmes, com destaque para a cultivar Dama, que chegou a R$ 265/saca CIF SP.
“Mesmo com a lentidão das vendas no varejo, a estratégia de segurar volumes maiores e priorizar vendas programadas tem sido fundamental para sustentar preços”, observou o analista.
Nas regiões produtoras, os preços também acompanharam esse movimento: Triângulo Mineiro entre R$ 220-223/sc, Sul Goiano entre R$ 190-214/sc, Barreiras/BA entre R$ 194-196/sc, Interior de SP de R$ 244-250/sc, enquanto Sorriso/MT apresentou maior pressão, com cotações entre R$ 185-188/sc.
Para os próximos meses, a expectativa é de preços aquecidos até a entrada da nova safra 2025/26. O ingresso do Nordeste, no entanto, deve ser limitado, já que a Conab aponta queda expressiva no rendimento das lavouras da região. Esse fator pode restringir a pressão de oferta e manter espaço para ajustes positivos, sobretudo nos padrões comerciais.
Já no feijão preto, o cenário foi o oposto. O mercado atravessou o mês sob forte pressão baixista, consolidando preços historicamente baixos, mesmo em plena entressafra. “O excedente estrutural segue como principal obstáculo: são quase 800 mil toneladas produzidas frente a um consumo de 500 mil toneladas”, destacou Oliveira.
As negociações foram pontuais, com valores CIF SP entre R$ 120-140/sc para padrões comerciais e até R$ 165/sc para extras. Nas regiões produtoras, a situação é ainda mais crítica: entre R$ 116-122/sc FOB no Sul do Paraná, R$ 105-122/sc no Oeste Catarinense, e em algumas áreas do Rio Grande do Sul os preços chegaram a ficar próximos ou até abaixo de R$ 100/sc FOB. “Esses patamares estão muito abaixo do preço mínimo oficial de R$ 152,91/sc e também dos custos de produção, estimados em R$ 180/sc”, reforçou o analista.
Na tentativa de aliviar o cenário, o governo anunciou uma subvenção de R$ 21,7 milhões via leilões de PEP/PEPRO para estados do Sul. Porém, o limite de 8,4 toneladas por CPF gerou críticas. “É uma medida que pode ajudar a escoar pelo menos 15 mil toneladas, mas, da forma como foi estruturada, soa quase impraticável”, avaliou Oliveira.
Outro suporte vem das exportações, que têm se consolidado como válvula de escape para os estoques. Entre janeiro e julho, o Brasil exportou 77,8 mil toneladas, gerando receita de US$ 68,3 milhões. A meta é superar as 100 mil toneladas ainda em 2025. Além disso, o Deral/PR projetou redução de 34% na área plantada da 1ª safra 2025/26, o que pode contribuir para reequilibrar a oferta no início do próximo ano.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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