Mercado de milho depende de câmbio, safrinha e safra EUA – SAFRAS Agri Week

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     Porto Alegre, 24 de março de 2022 – O mercado brasileiro de milho vem apresentando preços mais baixos com a decisão do produtor de vender mais o cereal neste momento e segurar a soja. Adiante, especialmente no segundo semestre, para as cotações avançarem o mercado vai depender do câmbio, da safrinha e da produção norte-americana. A avaliação partiu do consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari, que apresentou palestra na manhã desta quinta-feira no último dia do 3º SAFRAS Agri Week, evento totalmente on line e gratuito que está ocorrendo nesta semana, entre 22 e 24 de março.

     Molinari iniciou destacando os riscos que o mercado de milho encontra em 2022. Salientou o risco climático para a safrinha com a continuidade do La Niña, se o fenômeno persistir; a questão cambial, com juros subindo no Brasil e Estados Unidos e com as eleições no Brasil; o plantio da safra americana 2022 e preços de exportação. Observou que o clima nos EUA e para a safrinha brasileira são “pontos nevrálgicos” do mercado.

     O mercado deverá estar muito atento ao relatório de 31 de março do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) com a intenção de plantio da safra americana. Molinari colocou que o mercado espera uma queda de 2 a 3 milhões de acres na área a ser plantada com milho nos EUA e um aumento de 2 a 3 milhões de acres para a soja. Mas, ponderou que o “produtor americano é um produtor de milho”. Assim, acredita que possa haver alguma surpresa e a área de milho não cair tanto. Se isso ocorrer, o relatório pode ser baixista para os preços do milho na Bolsa de Chicago, enquanto para a soja o relatório seria altista.

     Sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, Molinari indicou que o conflito em si não afeta tanto diretamente o mercado de milho. Especula-se uma perda de 40% na área de milho na Ucrânia, mas Molinari salienta que o mercado vai absorver isso e procurar alternativas. “O grande efeito da guerra está em cima do petróleo e do mercado de trigo. No mercado de milho os importadores já estão trabalhando a substituição”, afirmou. Com a alta do petróleo, cresce a demanda por etanol de milho e havendo maior procura pelo milho há sustentação para as cotações internacionais. E no trigo, Molinari indica que mesmo que termine a guerra, não se sabe como ficam as sanções em relação à Rússia. “O trigo é a grande variável para sustentação do milho”, comenta, já que o milho concorre com o trigo na ração.

     No segundo semestre, com o dólar não fugindo muito dos níveis atuais, com uma safrinha recorde e uma grande safra americana, Molinari indica que a tendência é de cotações pressionadas para baixo.

     Molinari estima a safrinha de milho no patamar recorde de 83,3 milhões de toneladas. Mas destacou que SAFRAS vai revisar a produção na próxima semana e que o número pode subir. Com uma safrinha nestes níveis, o país vai ter de exportar adiante 35 a 40 milhões de toneladas para escoar essa oferta.

     Ele lembrou que a decisão de venda do produtor vem mexendo muito com o mercado, causando preços mais baixos neste momento, apesar de uma oferta apertada no curto prazo. O produtor tem segurado a soja e vendido milho para fazer caixa. Por outro lado, as exportações estão ativas, e com 1,5 a 2,0 milhões de toneladas que se espera de exportações em março, abril e maio, isso pode ajudar a sustentar o mercado. A comercialização está lenta da safrinha que será colhida no segundo semestre. Se o produtor se mantiver segurando a soja, na entrada da safrinha pode haver muita oferta vindo ao mercado dependendo da decisão de venda. “Por isso, precisamos muito dessa exportação para tirar 35 a 40 milhões de toneladas”, ressaltou.

     “Para subir no 2º semestre, precisamos de 3 fatores: o câmbio para puxar preços nos portos, uma super quebra de safrinha e problema na safra americana”, indica. Com uma safra americana normal e safrinha dentro do normal, o segundo semestre é de pressão, sempre dependendo da importante decisão de venda do produtor. “Mas, se tivermos uma quebra da safra americana, por exemplo, os preços podem explodir”, alertou.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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