Mercado de café sob pressão com instabilidade econômica global

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     Porto Alegre, 24 de junho de 2022 – O mercado internacional de café teve uma semana de intensa volatilidade diante das instabilidades na economia global. Segue a aversão ao risco nos mercados diante das preocupações com inflação e recessão nos Estados Unidos e globalmente. As medidas de bancos centrais, como o Federal Reserve nos EUA, de elevar juros e tentar frear a inflação geram temores de desaceleração nas economias e nos mercados agrícolas isso traz apreensão em torno de queda no consumo.

     Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), após o café arábica subir bem na terça e quarta-feira em função da queda em estoques certificados da bolsa e alguma apreensão com a oferta, os preços tombaram na quinta-feira (23) em meio à fuga dos investidores dos mercados de commodities pelas instabilidades e temores nas economias. A alta do dólar contra o real e outras moedas pressionou o café nas bolsas de futuros.

     O mercado deve seguir muito influenciado pelos fatores financeiros globais. Mas, a preocupação com queda em estoques da bolsa e com o inverno no Brasil, que sempre gera temores de geadas, e cautela dos investidores, tende a dar suporte às cotações nos fundamentos.

     No balanço dos últimos sete dias, o café arábica para setembro na Bolsa de Nova York recuou de 231,80 centavos para 229,00 centavos, baixa de 1,2%. Tecnicamente, foi importante o rompimento da linha de US$ 2,30 a libra-peso. Em Londres, o robusta no mesmo comparativo na posição setembro caiu de US$ 2.104 para US$ 2.086 a tonelada, baixa de 0,8%.

     Já o mercado físico brasileiro de café mostrou-se melhor sustentado. O dólar comercial subiu nos últimos sete dias 4%, fechando a quinta-feira a R$ 5,23, dando suporte aos cafés em reais. Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o atraso na colheita e a pouca disponibilidade física colabora com a firmeza, especialmente entre os arábicas de bebida melhor. Os chamados café do grupo 1 (cereja e bebida fina e boa) também encontram sustentação na melhora da demanda, que busca no Brasil uma alternativa para a menor disponibilidade de suave colombiano. “Porém, uma melhora na oferta disponível, diante do andamento melhor da colheita da safra, pode ajudar o fluxo e tirar um pouco de força dos preços. Os riscos do inverno brasileiro, que iniciou oficialmente na última terça-feira (21), devem continuar no radar, atenuando eventuais investidas de baixa”, adverte.

     Em todo caso, o mercado voltou a subir em plena entrada de safra, o que é bastante favorável para o produtor, ressalta o consultor. No balanço dos últimos sete dias, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu na base de compra de R$ 1.320,00 para R$ 1.350,00 a saca, elevação de 2,3%. “É verdade que continua abaixo do pico nominal do início de fevereiro, mas mostra muita força na entrada de safra, o que facilita a vida daquele produtor que está precisando fazer caixa para cobrir despesas de colheita”, afirma Barabach.

     O café conilon também avançou na semana. O conilon tipo 7, base Vitória/Espírito Santo, na compra, avançou nos últimos sete dias de R$ 675,00 para R$ 690,00 a saca, valorização de 2,2%. “Porém, sem força para sustentar uma investida mais significativa de alta, por conta da pressão da chegada de café novo no mercado”, indica o consultor de SAFRAS.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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