Porto Alegre, 16 de maio de 2025 – O mercado brasileiro de trigo registrou mais uma semana de pressão nos preços, influenciado por dois fatores principais: a desvalorização de cerca de 3,5% do dólar frente ao real e a retração nas cotações internacionais. Segundo o analista da Safras & Mercado, Elcio Bento, o cereal argentino acumula queda de aproximadamente 5% no mês, impactado pela desvalorização de quase 9% no trigo hard norte-americano.
De acordo com Bento, essa combinação reduziu o custo de importação, o que se refletiu em ajustes negativos nos preços do grão no mercado doméstico. “Mudanças em duas das três variáveis que formam o preço do trigo no Brasil -câmbio e cotação internacional – motivaram alteração no comportamento dos agentes”, explicou.
Ainda conforme o especialista, os produtores, com receio de novas quedas, se mostram mais flexíveis nas pedidas. “Já os moinhos, enfrentando dificuldades no escoamento da farinha, reduziram as ofertas de compra”, explicou Bento.
Apesar da recente valorização de cerca de 3% nos preços da farinha em abril, a expectativa para maio é de desaceleração, acompanhando a queda do grão. “Câmbio e mercado internacional seguem muito voláteis, exigindo cautela nas decisões de curto prazo”, alertou o analista.
Preços regionais
No Rio Grande do Sul, os negócios FOB interior foram reportados entre R$ 1.380 e R$ 1.400 por tonelada. As pedidas dos vendedores giram em torno de R$ 1.400, enquanto os moinhos ofertam no máximo R$ 1.350. “A oferta argentina no CIF Canoas, por volta de US$ 270/t, reforça a pressão baixista”, disse Bento. A paridade de importação no interior gaúcho foi calculada em R$ 1.470/t, 6,5% acima dos preços locais.
No Paraná, as indicações CIF dos moinhos giram em torno de R$ 1.550/t, podendo chegar a R$ 1.600 no norte do estado. Com fretes internos elevados, as ofertas FOB interior ficam próximas de R$ 1.500/t. Circulam relatos de trigo argentino ofertado a R$ 1.520/t no porto de Paranaguá. A paridade de importação no interior paranaense ficou em R$ 1.501/t, praticamente em linha com os preços locais.
A queda acumulada nas principais regiões produtoras gira em torno de 6,5% em relação ao mês anterior, com destaque para:
Rio Grande do Sul: queda média de 6,1%
Paraná: recuo de 7,6%
Os negócios seguem pontuais e com baixa liquidez. “A queda do custo de importação motivou a entrada de novos vendedores, mas os moinhos ainda demonstram pouco apetite comprador. Esse descompasso achatou os preços”, concluiu Bento.
Argentina
A Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) projeta um plantio histórico de 7,2 milhões de hectares em 2025/26, o maior dos últimos 15 anos. Esse aumento de 4% em relação ao ano anterior seria impulsionado pela notável recuperação das reservas hídricas entre fevereiro e abril, que atualmente superam até mesmo as de anos muito favoráveis como 2021.
Caso se atinja uma produtividade média de 3.050 quilos por hectare e sejam descontados 300 mil hectares não colhidos, a produção estimada para esse ciclo alcançaria 21 milhões de toneladas.
Quanto à safra 2024/25, com base em ajustes na área plantada realizados por meio de imagens de satélite na região núcleo, estima-se que a área semeada tenha sido de 6,91 milhões de hectares, após a incorporação de 227 mil hectares. Com produtividade média nacional de 3.040 quilos por hectare, a produção de trigo 2024/25 é estimada em 20,1 milhões de toneladas.
Ritiele Rodrigues – ritiele.rodrigues@safras.com.br (Safras News)
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