Com auge da safra do boi gordo, setor deve ter baixa nos preços no 2T24 – Safras Agri Week

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Porto Alegre, 27 de março de 2024 – O primeiro trimestre de 2024 foi de queda na arroba do boi gordo no Brasil, e o mercado deve registrar uma negatividade ainda maior no segundo trimestre do ano, quando a safra chegará no auge. A afirmação foi do analista e consultor de Safras & Mercado, Fernando Iglesias, durante a 7a edição do Safras Agri Week, evento online e gratuito que ocorre entre os dias 26 e 28 de março.

De acordo com Fernando, a recomendação é que os produtores utilizem ferramentas de proteção para o segundo trimestre do ano, já pensando nessa baixa de preços que o mercado deve enfrentar. “Estamos convivendo com um grande volume de animais sendo ofertados neste primeiro trimestre. Há uma tendência que isso afete as margens e lucratividade, fazendo uma diferença muito grande na hora de fechar as contas”, pontua.

Partindo para o mercado internacional, Iglesias ressalta o enorme papel nas compras de carne bovina do Brasil por parte da China. Segundo ele, para o Brasil alcançar um desempenho econômico agradável, é preciso que a gigante asiática também esteja em ordem.

“Há dificuldades na China que acontecem desde 2023. As principais indústrias estavam tentando combater a inflação e, por isso, ofereceram juros mais altos. Contudo, com a China é diferente: o país precisa reaquecer a economia, com juros mais baixos e crédito barato”, explica. “O problema de manter juros baixos é que ocasiona uma desvalorização da moeda. A moeda chinesa está bastante desvalorizada no momento. Com a China sendo grande importadora internacional de commodities, com liderança em diversos setores, o mercado global vê o produtor chinês baixando os preços em dólar para compensar essa desvalorização”, afirma Iglesias.

Iglesias prosseguiu a palestra dizendo que no primeiro trimestre, com o consumidor descapitalizado, a procura por carnes mais acessíveis, como a carne de frango e embutidos, é consideravelmente maior. A carne bovina tem preços mais inacessíveis para boa parte da população, trazendo pressão aos preços neste período. O consultor ainda destacou o cenário de nutrição animal, que conta com diversas alternativas no mercado e preços mais baixos.

“O custo para confinamento está relativamente baixo no Brasil. O que pesa, contudo, é uma potencial queda nos futuros da B3, tornando esse confinamento menos atrativo. Isso faz com que o produtor coloque o pé no freio e não faça investimentos intensivos nesta temporada. O comportamento do confinamento, de forma geral, vai depender muito dos preços futuros em abril e maio”, ressalta o analista.

O grande volume de fêmeas sendo ofertadas no primeiro trimestre, para Iglesias, também é ponto expressivo para a queda nos preços. O descarte de matrizes segue muito presente no Brasil neste início de ano. Além disso, o preço da reposição e do bezerro se encontram atrativos. “Quem trabalha com engorda precisa verificar a aquisição de reposição, explorando a relação de troca favorável e investir neste momento. O descarte de fêmeas expressivo terá efeito no médio e longo prazo, inclusive. Os atuais preços do bezerro já não estarão mais tão baixos a partir do segundo trimestre e em 2025”, alerta.

Por fim, a expectativa de Iglesias é que o Brasil registre um volume de abate e produção recordes em 2024. Foi possível observar um mês de fevereiro com o maior nível de abate da história, subindo 31,33% em relação ao mesmo período de 2023. O crescimento de abate de fêmeas, no acumulado do ano, foi de 33,6%. A disponibilidade interna, por outro lado, deve cair 1,99%.

“O mercado de reposição conta com muitas oportunidades para investimentos, tanto de recria e engorda. O produtor brasileiro investiu muito dentro da porteira, mas precisa ser profissional do lado de fora também, com intuito de proteger o investimento realizado no setor. O grande problema, contudo, é que não teremos preços tão agradáveis em 2024. As exportações terão papel fundamental para enxugar a oferta doméstica, que é muito nociva para os preços no Brasil. Porém, resumindo, o país venderá muita carne nessa temporada”, conclui o analista.

Pedro Carneiro (pedro.carneiro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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