Brasil confirma 3º maior volume de embarques de café da história em 2021

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     Porto Alegre, 21 de janeiro de 2022 – Mesmo diante de uma safra menor em 2021, e com amplos entraves logísticos, como escassez de contêineres, o Brasil fechou 2021 com o terceiro maior volume embarcado de café de sua história. Segundo o balanço anual das exportações do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgado nesta semana, as vendas totais externas, incluindo café verde e industrializado (torrado e moído e solúvel) chegaram em 2021 a 40,372 milhões de sacas de 60 quilos, com receita de US$ 6,242 bilhões.

     O desempenho alcançado representa queda de 9,7% em volume embarcado, mas aumento de 10,3% em receita cambial frente aos números registrados no acumulado dos 12 meses de 2020. O país teve o terceiro maior volume remetido ao exterior na história, mesmo em meio à transição para uma safra de ciclo baixo, e, em valores, o melhor nos últimos sete anos, refletindo os preços elevados no mercado e o câmbio favorável às exportações.

     “Diante do ingresso na temporada 2021/22, com uma menor colheita devido ao ciclo bienal e aos impactos do clima nos cafezais do Brasil, vivemos intensas volatilidades no mercado. As cotações evoluíram para perto de seus níveis históricos, com o preço médio das exportações, de US$ 154,63, sendo um dos maiores da série. Esses fatores, aliados a um dólar forte ante o real, favoreceram o maior ingresso de divisas no Brasil”, analisa Nicolas Rueda, presidente do Cecafé.

     Conforme ele, o desempenho do ano passado é significativo e resulta do profissionalismo dos exportadores brasileiros, que realizaram trabalho exemplar para lidar com expressiva elevação no custo dos fretes, rolagens de cargas, constantes cancelamentos de bookings e disputa por contêineres e espaço nas embarcações. “Vivemos um ano inteiro com impactos da Covid-19 e a capacidade dos nossos associados foi o que permitiu que o Brasil alcançasse o terceiro melhor desempenho em volume embarcado da história. Os exportadores nacionais foram resilientes e realizaram esforços titânicos, não se deixando vencer. Assim, após mais de duas décadas, e como alternativa, retomaram os embarques na modalidade ‘break bulk’, com tecnologia moderna, via ‘big bags’, que supriu, em parte, a falta de contêineres”, enaltece.

     Apesar do desempenho relevante alcançado pelos exportadores, o Cecafé aponta que os gargalos logísticos no comércio marítimo mundial impactaram o resultado final das exportações brasileiras de café no ano passado. “Observamos uma melhora no fluxo dos embarques em dezembro, também motivada pelas remessas via ‘break bulk’. Ainda assim, projetamos que o Brasil deixou de exportar cerca de 3 milhões de sacas e de receber aproximadamente US$ 465 milhões em receita”, estima Rueda. Outro ponto que evidencia os impactos desses entraves é a redução no número de contêineres enviados ao exterior com café. No ano passado, foram embarcados 112.732 contentores, o que representa uma queda de 9,8% na comparação com os 125.034 remetidos ao longo de 2020.

COMERCIALIZAÇÃO 2022

     Os preços altos ajudaram a destravar alguns negócios com safra futura de café, mas o fluxo de vendas segue arrastado. O produtor já comprometeu um percentual alto da safra 2022, especialmente no Sul e Cerrado de Minas Gerais e na Mogiana paulista. Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, uma dinâmica comercial acelerada associada às dúvidas produtivas em torno da próxima safra segura um pouco o ímpeto das vendas de safra nova. “Além disso, os preços seguem muito próximos das máximas nominais, o que favorece a estratégia do vendedor de fracionar lotes e alongar posições, sem pressa em fechar novos negócios. No lado da demanda também não há grande interesse. Questões de fluxo de caixa, por conta do ‘margeamento’ em bolsa, ajudam a inibir um pouco o interesse por posições antecipadas”, diz Barabach.

     Levantamento de SAFRAS indica que até o último dia 14 de janeiro as vendas da safra 2022/23 alcançavam 32% do potencial produtivo de 2022. Isso corresponde a um avanço de 3 pontos percentuais na comparação ao mês anterior. E, mesmo mais cadenciada, as vendas seguem comparativamente bem aceleradas, uma vez que em igual época do ano passado o comprometimento dos produtores estava em 19% da safra.  Destaque às vendas de arábica, que alcançam 35%. Estavam em 26% em igual período do ano passado. Já as vendas de conilon alcançam 33% do potencial produtivo, contra 8% em 2020. “O interesse da indústria local, por conta do arábica caro e da mudança no blend, explica essa performance”, diz Barabach.

     Ele comenta que continua o spread negativo entre os contratos de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) – posições mais distantes trabalhando com preço mais baixo que as mais próximas. “O mercado aposta em melhora na oferta futura. Esse comportamento da curva de preço de café na ICE US é um fator adicional para limitar o interesse por fixações futuras do lado do vendedor”, aponta.

     O consultor indica que a curva de dólar futuro sustenta uma inclinação positiva mais acentuada, pautada na taxa de juros mais elevada. E isso serve de um fator de compensação. “Em linhas gerais, a base de preço para fixação antecipada continua muito valorizada e bem acima das referências médias históricas deflacionadas. Mesmo com os custos mais altos, continuam garantindo uma boa rentabilidade ao vendedor”, diz.

     Ainda diante desse quadro favorável, aborda Barabach, o fluxo de vendas tende a seguir compassado, com o produtor alongando vendas e atento à safra 2022 e de olho na volatilidade financeira, especialmente a dólar e petróleo. “E só deve acelerar vendas se o preço do café der uma guiada de baixa acentuada”, conclui.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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