São Paulo -A Bolsa fechou em queda em um dia de aversão ao risco influenciada pelo recuo do petróleo no mercado internacional, o que acabou empurrando as empresas do setor para baixo. Além disso, em semana de decisão de juros aqui e nos Estados Unidos, os investidores adotam a postura de cautela em meio aos impactos das tarifas de Donald Trump.
A derrubada da commodity de energia foi provocada pela decisão da Opep em elevar a produção do petróleo em mais de 411 mil barris por dia (bpd) em junho.
As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 2,81% e 3,73%. Petrorio (PRIO3) recuou 2,63% e Brava Energia (BRAV3) perdeu 4,28%.
Outro setor que sofreu na sessão de hoje foi de frigoríficos. Segundo Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, as quedas que refletem o receio do mercado com o surto de gripe aviária nos EUA. BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) caíram, respectivamente, 4,54%, 3,84% e 3,16%.
Entre as altas do Ibovespa, estão Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3)- subiram 8,81% e 2,13%, com investidores reagindo positivamente a um rumor de fusão das empresas.
O principal índice da B3 perdeu 1,21%, aos 133. 491,23 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho caiu 1,46%, aos 135.500 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.
Para o analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, disse que as commodities puxam a bolsa para baixo. O mercado fica à espera para a Super Quarta com decisão de taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos.
“A expectativa nos Estados Unidos é de que a taxa de juros seja mantida, mas o mais importante é a fala do Powell [Jerome Powell, presidente do Fed]. Aqui, a Selic deve subir 0,5 ponto porcentual (pp) indo para 14,75%, o que é muito ruim”.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, entre os movimentos que influenciavam a variação do Ibovespa na tarde desta segunda-feira, ele lembra que relatório Focus indicou, hoje, uma previsão para a taxa Selic de 14,75% para o final do ano.
“Aproveitando, vamos ver os movimentos do Copom [o Comitê se reúne amanhã e na quarta, quando sai a decisão de juros]. Se o Copom não sinalizar nada para a próxima reunião de junho, isso não significa que não vai subir mais”.
Pletes também aponta o movimento ascendente da curva, especialmente nos vértices mais curtos, a exemplo do final da semana passada, e estabilidade dos vértices mais longos.
“Outro ponto do movimento da Bolsa é o setor de educação subindo, divergindo um pouco do restante, e algumas de varejo, como Vivara, Lojas Renner também em alta, e o restante se mantém em queda, especialmente o setor financeiro, após altas expressivas nas últimas semanas. O setor de óleo e gás tem queda um pouco mais forte, por conta do movimento do petróleo. E o movimento geral de Bolsa à espera de definições do Copom e FOMC, nos Estados Unidos”, comenta.
Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, disse que a queda do petróleo pressiona a bolsa.
“A decisão da Opep em elevar a produção, de forma inesperada, derruba o petróleo. E, como a nossa bolsa é de commodities, derruba as empresas do setor de petróleo- Petro, PetroRio e Brava Energia- e pressiona o Ibovespa. Existem duas visões: esse aumento da produção se dá por medo de recessão [global], e se fala em uma possível cooperação entre EUA e Arábia Saudita. Os EUA pediriam para reduzir o preço do petróleo, e com isso ajudaria a Arábia Saudita no acordo nuclear com Irã. Em termos de inflação, essa queda da commodity é positiva. Vamos ver como a Petrobras vai se comportar. A redução do diesel -a Petrobras reduziu em R$ 0,16 o preço médio de venda de diesel para R$ 3,27-é positiva porque diminui o custo do frete, mas a Petrobras estava com ágio tanto no preço do petróleo como do diesel, e faz preço”.
Moreira acrescentou que somado a essa questão do petróleo, essa semana é importante para o mercado com a decisão de juros aqui e lá fora. Temos de visualizar a “cabeça” do Copom e Fed, e ver o que os bancos centrais estão realmente olhando em relação às tarifas [do Trump]. É a primeira reunião pós-anúncio das tarifas”.
O dólar comercial fechou a R$ 5,6898 para venda, com valorização de 0,62%. Às 17h05, o dólar futuro para junho tinha alta de 0,49% a R$ 5.722,500. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, recuava 0,25% a 99,78 pontos.
Após uma manhã de baixa, o dólar comercial firmou alta na parte da tarde com o mercado à espera de uma negociação concreta sobre as tarifas entre Estados Unidos e China, apesar de Donald Trump sinalizar que essa semana não tratará do tema.
“Hoje, o mercado de câmbio foi marcado pela volatilidade. O dólar iniciou em queda ante o real, favorecido pela fraqueza global da moeda americana e pela expectativa otimista quanto ao avanço nas negociações comerciais entre EUA e China. No entanto, a moeda logo reverteu para alta, impulsionada pela forte queda no preço do petróleo, que caiu quase 3%, e por novas ameaças tarifárias feitas pelo presidente americano, Donald Trump, especialmente a tarifa de 100% sobre filmes importados”, explicou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
Segundo ele, a ausência de notícias a respeito das negociações de Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, ampliou as incertezas e pressionou o câmbio, que operou com liquidez reduzida devido aos feriados na China e Reino Unido.
Os investidores também ficam na expectativa sobre as reuniões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Comitê de Política Monetária (Copom), que começam amanhã e terminam na quarta-feira (7), com decisão de juros.
Vanei Nagem, sócio da Pronto!Invest, disse que “o dólar está com volume um pouco menor, e o fato de não ter nada concreto em relação às tarifas com a China está causando um pouco de nervosismo”.
No final da quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual para 14,75% ao ano. O mercado voltará suas atenções para o comunicado e as sinalizações que o BC deixará para seus próximos passos. Antes, às 15h, será divulgada a decisão do Federal Reserve e o sentimento é de manutenção dos juros. O foco volta-se para o depoimento do presidente da instituição, Jerome Powell.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta com o mercado na expectativa para a decisão de juros aqui e nos Estados Unidos.
Por volta das 16h10 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,715% de 14,675% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,045%, de 13,955%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,670%, de 13,555%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,700% de 13,605% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, encerrando uma sequência de nove dias de alta, enquanto os investidores acompanhavam os mais recentes desdobramentos do comércio global.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,24%, 41.218,83 pontos
Nasdaq 100: -0,74%, 17.844,24 pontos
S&P 500: -0,64%, 5.650,38 pontos
Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua e Darlan de Azevedo / Safras News