São Paulo -A Bolsa fechou em queda em dia de realização de lucros e marcado por repercussão sobre os balanços corporativos referente ao primeiro trimestre de 2025 com o recuo forte das ações do Banco do Brasil (BBAS3) e em meio a digestão da fusão da Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3). Na semana, subiu 1,95%.
As ações do Banco do Brasil (BBAS3) caíram 12,68% refletindo o balanço do 1T25 divulgado ontem após o fechamento do mercado. O Banco do Brasil registrou um lucro líquido ajustado de R$ 7,4 bilhões no primeiro trimestre de 2025 (1T25), queda de 23% com igual período do ano anterior. O lucro líquido, por sua vez, somou R$ 6,7 bilhões, 22,8% inferior na mesma base de comparação. O retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) foi de 16,7%. As ações da Marfrig (MRFG3) subiram 21,34% e as da BRF (BRFS3) que chegaram a cair no começo do pregão, encerraram em alta de 0,77%.
O principal índice da B3 caiu 0,10%, aos 139.187,39 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 0,27%, aos 140.700 pontos. O giro financeiro foi de R$ 29 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.
Segundo relatório da Ativa Investimentos, “o índice Ibovespa opera de lado com receio fiscal e Banco do Brasil, enquanto exterior sobe”.
Segundo análise de Einar Rivero, Ceo da Elos Ayta Consultoria, o lucro recorde do Itaú contrasta com derrocada do Banco do Brasil.
“Os grandes bancos abrem 2025 em rota divergente. Por mais que o lucro consolidado dos quatro maiores bancos brasileiros listados na B3 tenha começado 2025 em alta R$ 26,86 bilhões no 1º trimestre, um avanço de 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior o resultado esconde uma assimetria cada vez mais evidente entre os players. No centro desse desalinhamento, dois protagonistas caminham em direções opostas: Itaú Unibanco e Banco do Brasil.
Segundo Rivero, o Itaú atingiu o maior lucro já registrado por um banco brasileiro listado na B3 para um primeiro trimestre: R$ 10,5 bilhões, alta de 9,6% em relação ao 1T24. Esse desempenho reforça sua posição de liderança como a instituição mais eficiente do setor privado, sustentado por controle de inadimplência e boa gestão da margem financeira. Do outro lado, o Banco do Brasil protagonizou um tombo que chamou a atenção do mercado. A queda de 22,9% no lucro líquido de R$ 8,78 bilhões no 1T24 para R$ 6,77 bilhões no 1T25 foi acompanhada por uma violenta reação negativa dos investidores. Às 13h do dia 16 de maio, as ações do BB acumulavam baixa de 12,3% no pregão, representando uma perda de R$ 20,7 bilhões em valor de mercado. Em uma analogia que expõe o tamanho do impacto, a cifra evaporada equivale ao valor de mercado inteiro da Ambipar, hoje cotada em R$ 20,7 bilhões. A reversão na lucratividade do BB levanta dúvidas sobre o impacto de medidas de política pública e intervenção estatal na estratégia do banco. Embora siga sendo uma das instituições mais rentáveis da B3, a magnitude da queda não passou despercebida pelo mercado, que rapidamente precificou o risco”.
Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, disse que a bolsa tem movimento de realização, após as altas recentes, e o destaque fica para os eventos corporativos. O Banco do Brasil tem queda forte refletindo o resultado do 1T25. O mercado tinha uma expectativa baixa apara o balanço, mas veio pior que o esperado e acaba puxando um pouco setor bancário. Mas o setor bancário segue favorável, alvo de fluxo externo, resiliente, os resultados se destacaram, à exceção do Banco do Brasil.
Bruna comentou que o resultado do 1T 25 da Marfrig e BRF foi bom, mas a notícia de fusão das duas foi uma surpresa.
A analista de renda variável da Rico explicou o que tem sustentado as altas recentes do Ibovespa.
“A bolsa tem subido puxado pelo capital externo. No dia 14 [quarta-feira], os estrangeiros entraram com R$ 873 milhões na B3 e no ano está positivo com R$ 19,7 bilhões. Ontem chegou a bater novo recorde de pontuação. Os gringos têm buscado a nossa bolsa em razão da expectativa de fim do ciclo de alta de juros aqui e a rotação de carteiras globais. Existe uma diversificação maior do capital global para economias desenvolvidas, sem ser a americana, e os emergentes sendo beneficiado por esse movimento. Além disso o Ibovespa está bem descontado e o Brasil acabou sendo um vencedor relativo nessa guerra comercial entre EUA e China. Essa rotação de carteiras globais deve continuar porque ainda há muitas incertezas em relação às tarifas, apesar da trégua entre EUA-China”.
Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, disse que a temporada de balanços e notícias envolvendo Marfrig e BRFoods devem mexer com o mercado.
“No curtíssimo prazo vejo uma acomodação para os ativos ou até uma realização diante da forte alta nas últimas semanas. Por aqui, saiu o IGP-10 de maio-caiu 0,01% e a expectativa era de +0,17%, lembrando que tivemos deflação 0,22%. Hoje é vencimento de opções de ações, o que pode trazer volatilidade. Mas o que vai trazer grande impacto é a repercussão da temporada de balanços e a fusão entre Marfrig, uma das maiores e principais produtoras de carne, e BRF. Elas vão formar a MBRF global que vai buscar listagem de ações nos EUA. São duas empresas brasileiras propondo uma combinação de negócios, mas o problema é que a Marfrig propõe um desconto em relação ao preço de tela. Normalmente se oferece um prêmio e não um desconto. Lá em NY, os ADRs da BRF já estão caindo. Para a Marfrig isso seria positivo. Fora essa notícia, as duas empresas reportaram bons resultados do 1T25. Outro aponto de atenção é o Branco do Brasil em que o balanço veio abaixo do esperado e deve refletir o Ibovespa”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,19%, cotado a R$ 5,6685. A sessão foi marcada pela continuidade dos ruídos de que o governo não cumpra as metas fiscais visando as eleições do próximo ano. Por outro lado, um possível acordo comercial entre China e Estados Unidos gera certo otimismo global. Na semana, a divisa estadunidense teve valorização de 0,25%.
Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, existe espaço para o dólar voltar a R$ 5,60, mas os ruídos fiscais e o temor de que o governo entre em “modo eleição” dificultam o rompimento desta barreira.
De acordo com a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o movimento também tem ligação externa, com as indefinições sobre a relação comercial entre China e Estados Unidos.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda. A sessão foi marcada por incertezas fiscais e IGP-10 de maio (-0,01%).
Por volta das 16h39 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,745% de 14,795% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,010%, de 14,145%, o DI para janeiro de 2028 ia a 13,595%, de 13,715%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,600% de 13,675% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta pelo quinto pregão consecutivo e forte alta semanal, à medida que os investidores deixaram de lado dados decepcionantes de confiança do consumidor e preocupações persistentes com a inflação.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,29%, 41.249,38 pontos
Nasdaq 100: -0,004%, 17.928,92 pontos
S&P 500: -0,07%, 5.659,91 pontos
Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News