Atraso nos portos deixa 2,155 milhões de sacas de café sem exportação até setembro – Cecafé

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     Porto Alegre, 16 de outubro de 2024 – De acordo com levantamento realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a seus associados, os elevados índices de atrasos e alterações frequentes de escala de navios para exportação fez com que o país acumulasse 2,155 milhões de sacas 6.529 contêineres  do produto não embarcadas até setembro de 2024. Com preço médio Free on Board (FOB) de US$ 269,40 por saca (café verde, set/2024) e a média do dólar a R$ 5,5410, isso implica que o país deixou de receber US$ 580,55 milhões, ou R$ 3,217 bilhões, como receita cambial.

     O cenário fica ainda mais crítico quando se analisa o prejuízo que os exportadores de café vêm acumulando devido à falta de infraestrutura portuária adequada para cargas conteinerizadas no país, segundo analisa o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

     “Nossos associados reportaram um custo extra de R$ 5,938 bilhões, devido a detentions, armazenagens adicionais, pré-stacking e gate antecipado, ocasionado pelos elevados índices de atraso e alterações regulares nas escalas das embarcações. Esses entraves revelam que nossos portos não evoluíram na mesma velocidade do agro e se encontram com estruturas inadequadas para cargas conteinerizadas, expondo o esgotamento da infraestrutura e a necessidade de ampliação da capacidade de pátio, berço e do aprofundamento de calado para recebimento de embarcações maiores”, revela.

     Somente em setembro, 69% dos navios, ou 190 de um total de 277 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé. O maior prazo de espera foi registrado no Porto de Santos (SP), com 38 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline.

     O levantamento aponta que Santos, principal terminal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, registrou um índice de 84% de atraso de porta-contêineres em setembro, o que envolveu 108 do total de 129 embarcações.

     No mês passado, apenas 10% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios no Porto de Santos. Outros 36% possuíram entre três e quatro dias e 54% tiveram menos de dois dias.

     O nível de navios que tiveram janela aberta por menos de 48 horas alcançou seu pior índice desde janeiro de 2023, quando começamos o levantamento, e, mais preocupante ainda é o fato de que 42 navios sequer tiveram abertura de gate, ampliando o cenário de custos extras e elevados aos exportadores, comenta Heron.

     No complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, o índice de atrasos das embarcações foi de 58% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 29 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual implica que 42 dos 72 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.

     Também em setembro deste ano, 13% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 44% registraram entre três e quatro dias; e 43% possuíram menos de dois dias.

     Heron reforça que o crescimento dos embarques das cargas conteinerizadas revela a falta de infraestrutura adequada nos portos brasileiros e seus impactos no comércio exterior, que desencadeiam problemas como a adição de custos logísticos às exportações, menor repasse do valor FOB aos produtores e, mais recentemente, questões envolvendo emissão de certificados fitossanitários para determinados destinos por conta dos atrasos e alterações de escalas.

     Graças ao competente e incansável trabalho das equipes de logísticas dos exportadores de café, somados ao apoio e à colaboração de alguns terminais portuários, o Brasil tem conseguido honrar seus compromissos, mesmo com a adição dos elevados custos logísticos. Contudo, é muito importante que as autoridades públicas tenham consciência desse cenário e promovam o amplo diálogo para que consigamos seguir abastecendo os nossos mercados compradores e evitemos mais prejuízos nas exportações, comenta.

EXPORTADOR CONFIÁVEL

     O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, enaltece o comprometimento dos exportadores brasileiros com seus clientes internacionais, abrindo mão de boa parte de suas margens, bancando os custos extras devido aos gargalos e honrando seus compromissos com os embarques.

     Em setembro, o Brasil exportou 4,464 milhões de sacas, maior volume já registrado para este mês e que representa avanço de 33,3% na comparação com os 3,348 milhões de sacas embarcadas em idêntico período do ano passado. No acumulado do ano, as exportações somam o recorde de 36,428 milhões de sacas, com alta de 38,7% em relação aos nove primeiros meses de 2023.

     Nossos associados têm dado uma clara demonstração de superação. Apesar dos diversos problemas logísticos, o setor tem dado claros sinais da sua capacidade de alcançar, em praticamente todos os meses deste ano, novos recordes de exportação e essa segurança torna, dentro do possível, a relação entre importador e exportador cada vez mais sólida devido à pontualidade no cumprimento dos contratos dentro dos termos FOB, salienta.

     A opinião é compartilhada pelo diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, que destaca que, a despeito da questão logística, os exportadores de café do Brasil estão comprometidos com o abastecimento de café no mundo, aos mais diversos e exigentes mercados.

     Estamos mostrando que conseguimos trabalhar duas, três, quatro, cinco vezes mais e fazer o nosso café chegar a todo o mercado consumidor mundial. Apesar das dificuldades, somos capazes de nos desdobrar e garantir o abastecimento diante de todas essas adversidades, inclusive batendo recordes, comenta.

     Matos anota que o Cecafé segue comprometido com a pauta de infraestrutura e logística, mantendo diálogos em todas as esferas governamentais e com os atores do setor privado, desempenhando um trabalho organizado entre as organizações do agronegócio e dos representantes de armadores e terminais portuários.

     Ferreira completa que a capacidade de articulação junto aos principais players da logística continuará evoluindo, através de debates transparentes, trazendo para discussão na mesma mesa aqueles que podem influenciar positivamente, como o Cecafé e as demais entidades da cafeicultura brasileira e representantes de importadores, companhias de navegação, terminais, autoridades portuárias e os governos federal, estadual e municipal.

     Com produção crescente, sob condições climáticas adequadas, demanda aquecida e preços competitivos e remuneradores a nossos produtores, não temos outro caminho a não ser encontrar as soluções para que os cafés de maior diversidade, qualidade e sustentabilidade do mundo alcancem cada vez mais os milhões de consumidores que tanto prestigiam os cafés do Brasil, conclui.

     As informações partem da assessoria de imprensa do Cecafé.

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     Revisão: Sara Lane – sara.silva@safras.com.br (Safras News)

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