Ano foi marcado por volume e receita recorde nas exportações de carne bovina

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Porto Alegre, 23 de dezembro de 2022 – Apesar do cenário mais difícil enfrentado ao longo do último trimestre de 2022, com declínio no ritmo de embarques e com a queda registrada nos preços da arroba bovina, o desempenho para o setor pode ser considerado muito positivo. “O ano foi marcado por volumes e receita recorde nos embarques. Levantamento de SAFRAS & Mercado indica que, até novembro, o país havia embarcado 3,085 milhões de toneladas de carne bovina, alta de 23,7% frente ao mesmo período do ano passado. A aumento da receita com as exportações foi ainda maior, de 43,9%, atingindo US$ 12,057 bilhões”, sinaliza o analista Fernando Iglesias.

Os embarques de carne bovina para a China foram recordes ao longo de 2022, mesmo que tenham mostrado sinais de desaquecimento nos volumes a partir do terceiro trimestre deste ano. Com uma demanda muito forte no começo do ano, Iglesias destaca que os preços da arroba do boi atingiram patamares recordes neste ano, próximos de R$ 360,00 no mercado paulista no primeiro trimestre. “Mas depois os valores foram se acomodando, girando ao redor de R$ 300,00 para o boi destinado ao mercado chinês nos demais meses do ano, com a renegociação dos contratos de compra por parte do país asiático e o aumento gradativo da oferta de gado pelo país”, argumenta.

Iglesias afirma que o mercado de reposição operou com preços mais baixos ao longo de 2022, com o aumento da oferta. “Os investimentos realizados na pecuária de corte brasileira a partir de 2019 foram efetivamente traduzidos em aumento da capacidade produtiva em 2022. Basicamente o setor passou a conviver com maior disponibilidade de bezerro, garrotes e assim por diante. Com um maior volume ofertado, os preços dos animais dessa categoria perderam sustentação”, explica.

O segundo aspecto fundamental para a queda na curva de preços do mercado de reposição foi o declínio dos preços do mercado do boi gordo. “Com os preços do boi gordo em baixa, aconteceu uma natural redução da demanda por reposição por parte dos pecuaristas focados em engorda. Com uma menor demanda, os preços acabaram apresentando recuo”, destaca.

Iglesias disse que os preços do bezerro no Centro-Sul do país estiveram abaixo até mesmo do valor praticado em 2021, como um sintoma do avanço da oferta. “Em novembro a média parcial no Centro-Sul do país foi de R$ 2.581,35 por cabeça. Em igual período do ano passado o bezerro era precificado a R$ 2.918,21 por cabeça, queda de 11,5%. No início do ano, o bezerro era precificado acima de R$ 3.000 em grande parte do país, ou seja, houve uma queda acumulada queda de mais de 16,5%”, informa.

Esse cenário trouxe consequências na decisão do pecuarista, que passou a descartar fêmeas de maneira mais contundente. De acordo com dados do Sistema de Inspeção Federal, com elaboração de SAFRAS & Mercado, em 2022 já foram abatidas mais de 6,2 milhões de fêmeas. Em igual período do ano passado, foram abatidas em torno de 5,29 milhões de fêmeas, ou seja, na comparação entre um ano e outro houve crescimento de 17,5%.

Para 2023 a tendência é de manutenção desse tipo de estratégia, com os investimentos realizados em 2019, 2020 e 2021, ainda sendo traduzidos em ampliação da capacidade produtiva. Para Iglesias, ainda haverá boa disponibilidade de animais de reposição no mercado, mantendo uma curva de preços menos atraente, o que tende a manter o descarte de matrizes em nível elevado. “Esse é um dos grandes pilares que levam a crer na ampliação dos abates em 2023, e no consequente crescimento da oferta de carne bovina e demais derivados do abate (couro, sebo e assim por diante)”, prospecta.

Por sua vez, esse tipo de estratégia resultará em consequências de médio e de longo prazo, algo natural dadas as características do ciclo pecuário. Entre os anos de 2024 e 2025 se formará um gargalo, em que o ritmo de nascimentos não acompanhará a demanda por animais de reposição, levando a nova elevação dos preços nos segmentos de cria e recria, entrando na etapa do ciclo de menor capacidade produtiva. “A consequência tende a vir na elevação dos preços ao longo da cadeia produtiva, motivando investimentos por parte dos pecuaristas. Essas são condições que se retroalimentam, mantendo a roda da pecuária de corte girando”, conclui.

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Arno Baasch (arno@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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