O mercado de feijão teve cenários distintos ao longo de agosto, conforme avaliação do analista Evandro Oliveira, da Safras & Mercado. Enquanto o feijão carioca encontra sustentação na seletividade dos compradores e na menor oferta disponível, o feijão preto segue pressionado por um excesso de produção, que levou os preços a níveis considerados críticos.
No feijão carioca, a dinâmica de preços foi influenciada pela oferta restrita. A entrada do produto da terceira safra, especialmente em Minas Gerais e Goiás, foi escoada em grande parte, ao passo que a oferta do Paraná diminuiu consideravelmente. “Isso tornou os feijões comerciais (notas 7,5 e 8) escassos na Bolsa, levando os compradores a voltarem sua atenção para esses padrões, que antes eram menos valorizados”, destacou Oliveira.
O analista ressalta que o pregão desta semana foi marcado por pouca movimentação, mas com vendas pontuais e para embarque sustentando o mercado. “A negociação de 4 mil sacas de feijão nota 8,5 para embarque é um exemplo de como o mercado se ajusta à demanda”, comentou. Os preços para os melhores lotes se mantiveram firmes, com o feijão extra em torno de R$ 245/saca, enquanto os comerciais registraram negócios entre R$ 180 e R$ 210/saca. Segundo Oliveira, a paciência dos vendedores sugere que o mercado pode ensaiar uma nova alta caso a demanda se torne inadiável.
Já no feijão preto, a semana evidenciou um aprofundamento da crise de preços. A safra, que quase alcançou 800 mil toneladas, contrasta com um consumo anual de apenas 500 mil toneladas, gerando excedentes que seguem pressionando o mercado. “Mesmo com o aumento das exportações, a oferta interna ainda é muito superior à demanda”, ressaltou o analista.
O impacto aparece claramente nas cotações. Em regiões produtoras como o Sul do Paraná e o Nordeste Rio-grandense, os preços variaram entre R$ 116 e R$ 122/saca, patamar bem abaixo dos custos de produção (perto de R$ 180/saca) e do preço mínimo oficial, de R$ 152,91/saca. Para Oliveira, essa desvalorização representa um enorme desincentivo ao plantio na próxima safra, apontando para uma provável redução da área cultivada.
A única novidade que gerou alguma expectativa foi a subvenção de R$ 21,7 milhões anunciada pela Conab. “Se bem-sucedida, a medida poderá escoar pelo menos 15 mil toneladas de feijão e dar um fôlego aos produtores, embora ainda não tenha impactado as cotações”, explicou.
Além disso, Oliveira chama atenção para o decreto de Santa Catarina, que reduz o ICMS de 7% para 0% a partir de setembro, com reflexo esperado já em outubro. “Essa decisão deve baratear o produto no varejo, estimular o consumo e criar um efeito cascata, acelerando a reposição de estoques e o escoamento da produção acumulada”, concluiu.
Preços nas principais regiões produtoras (FOB)
Feijão carioca
As cotações mostram firmeza, sustentadas pela menor oferta nas lavouras:
- Interior de São Paulo: entre R$ 244 e R$ 246/saca
- Triângulo Mineiro: entre R$ 221 e R$ 223/saca
- Noroeste Goiano: entre R$ 220 e R$ 222/saca
- Sorriso (MT): entre R$ 194 e R$ 196/saca
- Sul Goiano: entre R$ 198 e R$ 200/saca
Feijão preto
As cotações seguem em patamares alarmantemente baixos, muito abaixo dos custos de produção e até do preço mínimo oficial:
- Sul do Paraná: entre R$ 116 e R$ 118/saca
- Nordeste Rio-grandense: entre R$ 116 e R$ 118/saca
- Campos de Cima da Serra (RS): entre R$ 120 e R$ 125/saca
- Noroeste do Paraná: entre R$ 116 e R$ 119/saca
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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