A ação da JBS fechou em queda no pregão desta quarta-feira após resultado do primeiro trimestre de 2025 apresentado na noite de ontem pela companhia. Os analistas citam boas avaliações, com partes acima ou abaixo do esperado, com destaque para expectativas de crescimento futuras diante do potencial do mercado e do avanço do processo de dupla listagem da companhia nos Estados Unidos e no Brasil, apresentado em julho de 2023, com o primeiro dia de negociação na NYSE como ação primária datado para acontecer em 12 de junho. Por volta de 12h47 (horário de Brasília), o papel JBSS3 caía 6,46%. No final do pregão, a ação caiu 3,67%, a R$ 39,35.
O Goldman Sachs considera que a JBS apresentou outro conjunto consistente de lucros, com a Pilgrim’s e a Seara atingindo seus melhores níveis de lucratividade no 1T25 no caminho certo. Embora os resultados possam criar uma expectativa de elevações das expectativas de consenso, os analistas acreditam que os preços da ação da companhia ainda serão limitados no curto prazo por recomendações contraditórias das agências de ‘proxy’ Institutional Shareholder Services (ISS) e Glass Lewis, antes da assembleia de acionistas agendada para votar a dupla listagem.
O Goldman Sachs continua com classificação de compra para as ações da JBS, citando uma combinação de expectativas elevadas de expansão com base nas projeções de crescimento da população global de, em média 0,7% ao ano até 2050, opções para alocação de capital acumulativa (prevê que a JBS poderia gerar fluxos de caixa livre agregados equivalentes a 26% de seu valor de mercado nos próximos três anos) e uma avaliação barata (atualmente negociada com um desconto relativo atualizado de 22% para a Tyson, embora superando consistentemente ambos em termos de crescimento e rentabilidade).
A tese de investimento dos analistas do Goldman Sachs vai além da listagem dupla e vê no balanço abertura para opcionalidades de crescimento gradual. “A alavancagem atingiu 2,0x e o fluxo de caixa livre foi melhor do que o esperado num trimestre sazonalmente fraco, impulsionado pelo capital de giro e uma implantação de Capex mais cadenciada. Continuamos pensando que um pipeline robusto de projetos focados em produtos de marca e de valor agregado poderia desconectar a JBS de outros pares de commodities e gradualmente aproximá-la de nomes de bens de consumo como Hormel (que atualmente é negociada a 12,0 vezes seu ebitda futuro de 12 meses)”, opinam.
A XP avalia que “não são tempos normais para a JBS”, com aumento da volatilidade no curto prazo à medida que a assembleia geral da dupla listagem se aproxima, e as discussões da conferência de resultados deveriam ditar o movimento das ações.
Em relação ao resultado do 1T25, a XP destaca que vieram sólidos, mas com FCF abaixo da expectativa. “A JBS reportou um início de ano sólido, superando a sazonalidade na maioria das proteínas, com a carne bovina nos EUA/Brasil como exceção: a receita líquida foi de R$ 114,1 bilhões (+29% A/A e +4% vs. XPe) e o EBITDA ajustado, considerando R$ 465 milhões em acordos antitruste, foi de R$ 8,9 bilhões (+39% A/A e +2% vs. XPe). As operações de aves e suínos continuam em destaque nos EUA e no Brasil, impulsionando as margens consolidadas, enquanto a Austrália também contribuiu positivamente. No entanto, JBS Brasil contraiu mais do que o esperado e a margem EBITDA ajustada de US beef foi de -1,8%, levantando a questão de quão baixas as margens podem chegar ou quão pequena essa unidade de negócios poderia se tornar, algo que iremos acompanhar na conferência de resultados de amanhã. Por outro lado, o consumo de caixa foi maior do que o esperado, totalizando R$ 5,3 bilhões em comparação com nossa estimativa de R$ 1,9 bilhões, impulsionado principalmente por estoques e ativos biológicos.”
O BTG Pactual não viu surpresas no trimestre e destacou o crescimento anual de 39% do ebitda, com a companhia superando comparações fáceis. “A JBS reportou um trimestre praticamente sólido e em linha, uma vez contabilizados os resultados já divulgados da subsidiária PPC. As vendas e o EBITDA ajustado ficaram 2% e 1% acima de nossa estimativa de R$ 114 bilhões e R$ 8,9 bilhões, embora com partes móveis que, em alguns casos, diferiram um pouco de nossas estimativas. O crescimento anual foi de 28% e 39%, respectivamente. Os lucros ficaram 37% acima das expectativas, de R$ 2,9 bilhões, impulsionados por menores despesas financeiras líquidas em um trimestre marcado por intensa volatilidade cambial. O fluxo de caixa foi negativo em -R$ 4,9 bilhões, como normalmente acontece durante o primeiro trimestre, devido à sazonalidade do capital de giro e também aos impostos sobre o caixa”, pontuaram os analistas.
O BTG destaca que, mais uma vez, os resultados foram salvos por aves e suínos. “Como tem acontecido há quase um ano, os segmentos de suínos e de frango da JBS foram responsáveis por praticamente 100% da expansão anual do EBITDA no primeiro trimestre, mais do que compensando as margens inferiores da carne bovina no Brasil e, principalmente, nos EUA. A Seara roubou a cena com fortes vendas (R$ 12,5 bilhões, + 22% a/a em exportações robustas) e uma margem EBITDA recorde de 19,8% no primeiro trimestre, 220 pontos base acima de nós e 820 pontos base acima de nós e 820 pontos base acima da nossa projeção”, comentou o BTG.
A carne suína dos EUA também teve um bom desempenho com um EBITDA IFRS de R$ 1,5 bilhão, 9% acima do BTGe e 48% maior ano a ano, com uma margem sólida de 12%. A Austrália também teve um bom desempenho, com uma margem EBITDA de 10%, beneficiando do aumento da procura externa, nomeadamente dos EUA. O outro lado foi o segmento US Beef, com margem EBITDA negativa de 1,6%, 80bps abaixo da projeção do BTG e a mais baixa em quase uma década, junto com Brazil Beef, onde a margem EBITDA de 4% ficou 120bps abaixo do BTGe.
Por fim, o BTG reforça a recomendação em JBS como a única opção de compra dentro do setor de proteínas, mesmo sem a confiança de que o ciclo de ganhos e aumentos que alimentou as ações da companhia no ano passado se repetirá em 2025, reforçada pelo resultado alinhado com as expectativas no primeiro trimestre. “E isso se tornará ainda mais evidente se a nossa tese de que as margens de aves/suínos convergirão gradualmente para níveis históricos ao longo do ano se provar correta. Dito isto, desde o anúncio da luz verde regulatória para a listagem nos EUA, possuir a JBS não é mais um caso de dinâmica de lucros, mas sim um caso de algum potencial real de reclassificação múltipla de negociação. Atualmente, vemos a JBS sendo negociada a 5,4x EV em relação ao nosso EBITDA de 2025 abaixo do consenso. A Tyson Foods, listada nos EUA, é negociada a 7,6x, e a PPC, subsidiária da JBS, é negociada a 6,8x. Não parece razoável acreditar que uma JBS listada nos EUA não possa, pelo menos, negociar em algum lugar entre eles. Cada 1x EV/EBITDA que ele reavalia significa uma vantagem de aproximadamente 40%”, ressalta o BTG.
A Genial Investimentos considerou o resultado 1T25 “sem sal”, mas diz que está de olho na dupla listagem. “A priori, o resultado ficou um pouco aquém das nossas expectativas, com margem EBITDA de 7,8% (-0,6p.p. vs. Genial Est.), apresentando retração de -1,4p.p. t/t e leve avanço de +0,6p.p. a/a. Vale ressaltar, no entanto que estávamos +0,5p.p. acima do consenso Bloomberg, de forma que a margem (principal indicador de resultado para o setor de frigoríficos), ficou em linha com o mercado.
Na avaliação da Genial, a reprecificação via múltiplos levaria a uma alta de quase +30% nas ações. “A JBS é negociada atualmente a 5,8x EV/EBITDA 25E, já refletindo a recente valorização das ações, que elevou seu valor de mercado. Ainda assim, o múltiplo permanece abaixo dos níveis praticados vs. pares, como Tyson Foods (8,4x) e a própria Pilgrims Pride-PPC (6,6x). Na Europa, companhias do setor de alimentos e bebidas listadas em Frankfurt e Londres são negociadas, em média, a 7,2, enquanto os pares asiáticos operam a 6,8. A convergência da JBS para a média global de 7,5x implicaria em um potencial valorização de +29,3% vs. múltiplo corrente mesmo que a convergência não seja perfeita e mantenha um gap de +0,5x vs. pares o que modelamos como nosso cenário base. Assim como delineado em nosso relatório Poder de voto vs. liquidez , consideramos esse rerating plausível à medida que a companhia avança em sua elegibilidade para índices relevantes, como o Russell 1000 e, futuramente, o S&P 500 (provavelmente, janela disponível para se candidatar apenas no 2S26).”
Uma vez tendo o primeiro dia de negociação na NYSE como ação primária, em 12 de junho, a Genial avalia que a crescente demanda por ações da companhia por parte de fundos passivos pode abrir espaço para que essa redução do gap vs. pares ocorra via blocos direcionados. “Outro ponto importante que destacamos é que o possível ingresso no S&P500 (que ajudaria a trazer ainda mais fluxo comprador para as ações) ainda depende do aumento do free float para o mínimo exigido de 50% hoje ~30%. Nesse sentido, vemos elevada probabilidade de que o BNDESPar, detentor de ~21% do capital total, inicie um movimento gradual de redução de participação nos próximos meses. Além disso, se olharmos o cronograma, aguardamos os próximos passos: (i) aprovação final do Programa de BDRs pela CVM e B3 até junho/25; (ii) efetivação do Form F-4 e listagem na NYSE (provavelmente até junho); (iii) exercício de conversão Class AB ao longo de 2026; e (iv) divulgação trimestral de resultados sob novos padrões de report”, detalha a Genial.