A alternância constante entre dias sem negócios e momentos pontuais de vendas concentradas foi a marca do carioca, que atravessou novembro em um ambiente de baixa liquidez. Segundo o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o comportamento do mês reforça um mercado marcado por cautela, preços nominais e referências instáveis.
Predominou a atuação cautelosa de compradores, enquanto vendedores resistiram a reduções adicionais, criando um cenário típico de preços nominais e referências instáveis. A oferta permaneceu restrita nos padrões comerciais (especialmente notas 7,5 e 8) que seguiram escassos durante todo o mês. As entradas diárias também foram curtas: entre 3 e 5 mil sacas, muitas sem giro, reforçando falta de fluidez.
O destaque ficou para o aumento da presença de feijão extra, especialmente peneira 12 e notas acima de 9,5, ofertado na faixa de R$ 270/sc, porém sem correspondente demanda, resultando em cargas negociadas abaixo do esperado ou retornando à origem diante da ausência de compradores. “A falta de demanda continua sendo o ponto central do mês, com Goiás e Minas Gerais sustentando preços mais firmes que as praças de Bolsa”, aponta Oliveira.
Na demanda, o varejo operou com ritmo lento, consumo fraco e postura extremamente seletiva. A busca restringiu-se a pequenos volumes de padrões comerciais (justamente os mais escassos) reduzindo ainda mais o giro. Mesmo com preços acessíveis, não houve motivação relevante para reposição.
As médias mensais FOB recuaram de forma expressiva no Paraná, de R$ 206,89 para R$ 193,94 por saca, queda de 6,26%. No Mato Grosso caíram de R$ 201,80 para R$ 193,47 por saca, recuo de 4,13%, reforçando ambiente de correção. A ausência de gatilhos de demanda, somada ao período típico de esvaziamento de negócios no fim do ano, manteve o mercado altamente especulativo.
“No curto prazo, a sustentação depende muito mais da limitação de oferta do que de qualquer reação da procura, deixando o mercado vulnerável e sem vetores claros de reversão”, complementa o analista.
Desânimo domina setor do feijão preto e reforça cortes contundentes na área plantada
O feijão preto apresentou em novembro seu pior comportamento do ano, com mercado descrito de forma recorrente como totalmente estagnado, inoperante e sem perspectiva de reação. A liquidez foi praticamente nula, e os poucos negócios concretizados envolveram volumes pequenos, sem qualquer impacto na formação de preços.
“O mês foi marcado por forte pressão vendedora, especialmente no Sul, onde a necessidade de liberar armazéns e demandas financeiras do produtor intensificaram o movimento de baixa”, avaliou Oliveira.
A oferta abundante e represada contrastou com um varejo extremamente lento, que utilizou o produto como chamariz, com promoções agressivas e preços chegando a R$ 2/kg no RS. Essa dinâmica reforçou seletividade dos compradores e ausência completa de recomposição de estoques, mantendo o mercado sem sustentação.
As indicações de preços mostraram deterioração contínua: comerciais no RS desde R$ 90/sc; extra de boa qualidade até R$ 125/sc, frequentemente sem compradores; ofertas beneficiadas a R$ 175/sc CIF SP com baixa aceitação. No Paraná, o extra alcançou até R$ 134/sc, ainda sem reação relevante. As médias mensais FOB confirmaram o colapso: queda de 8,6% no Rio Grande do Sul (encerrando em R$ 141,29 por saca), e recuo de 6,53% no PR (fechando em R$ 128,19 por saca), aproximando o mercado de patamares críticos comparáveis ao “desastre do arroz”.
Sem gatilhos internos ou externos, sem melhora no consumo e sem estímulos de exportação, novembro consolidou um ambiente de desânimo no setor. A expectativa dominante entre agentes é de que os cortes expressivos de área na primeira safra 2025/26 (até 50%) abram algum espaço para possíveis recuperações, mas o restabelecimento da demanda interna será fundamental para que isso ocorra. No curto prazo, não há sinais de inflexão ou recuperação de preços, e o mercado segue operando em seu nível mais frágil do ano.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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