Porto Alegre, 3 de janeiro de 2020 – O ano de 2020 deverá ser um bom ano para o complexo soja brasileiro, mas que inspira cuidados. A previsão e o alerta são do analista e consultor de SAFRAS & Mercado, Luiz Fernando Roque.
O plantio da nova safra teve um início delicado na maior parte dos estados produtores do país. A falta de chuvas trouxe atrasos para a semeadura nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste.
Já no Sul, foi o excesso de umidade que atrapalhou a entrada das primeiras máquinas nos campos. Alguns estados passaram por replantios de áreas relativamente importantes, caso, principalmente, de Mato Grosso do Sul e do Paraná.
Após este período inicial com baixa umidade, as chuvas começaram a retornar com regularidade à faixa central do país a partir de novembro de 2019, melhorando a situação da maior parte das lavouras e trazendo recuperação para parte dos atrasos acumulados.
“No Sul, os trabalhos de semeadura foram regularizados mais rapidamente. Apesar disso, as últimas semanas de dezembro trouxeram poucas chuvas às lavouras gaúchas, o que traz preocupações neste início de ano. Já no Nordeste, o ano encerrou com os trabalhos ainda atrasados e com o sinal de alerta ligado sobre as lavouras do oeste baiano, principalmente. A falta de chuvas voltou à região em dezembro, preocupando os produtores que já haviam semeado a maior parte de suas lavouras. Na região, também houve registro de replantio de áreas, e é bastante provável que algumas lavouras nem tenham sido semeadas”, alerta o analista.
Frente a isso, o mês de janeiro começou colocando em xeque alguns potenciais produtivos de importantes estado produtores do país. Os meses de janeiro e fevereiro serão fundamentais para a definição da nova safra brasileira, que ainda detém um potencial de produção recorde, mesmo com os problemas registrados até o momento. “Apesar disso, se o clima não ajudar, teremos perdas importantes na produção”, frisa Roque.
Os produtores brasileiros de soja deverão colher 125,465 milhões de toneladas em 2019/20, com crescimento de 5,2% na comparação com o ano anterior, quando a safra ficou em 119,306 milhões de toneladas. A projeção faz parte do mais recente levantamento de SAFRAS & Mercado.
No relatório anterior, divulgado em outubro, SAFRAS apostava em produção de 125,754 milhões de toneladas.
Preços
No lado dos preços, a ponta vendedora inicia o ano de olho na questão envolvendo a guerra comercial entre EUA e China. O mercado em Chicago trabalha otimista à espera de que a “fase um” do acordo comercial seja assinada no dia 15 de janeiro. Os players esperam por maiores detalhes com relação aos termos desta primeira fase, que devem incluir a compra de grandes volumes de soja norte-americana pelos chineses nos próximos meses.
“Tal fato pode impactar diretamente as vendas de soja brasileira para a China no primeiro semestre do ano, o que preocupa. Havendo uma produção grande no Brasil e uma menor demanda por exportação, é possível que tenhamos excesso de oferta no mercado interno nos primeiros seis meses do ano, o que pode pressionar os preços mesmo com Chicago em níveis mais elevados”, explica o consultor.
A questão envolvendo as “retenciones” na Argentina pode levar o Brasil a ganhar certa parcela do país vizinho no mercado exportador, compensando, em parte, a perda para os americanos. Mas ainda é cedo para saber se este ganho trará compensação suficiente. “O fato é que os produtores devem ficar atentos às novidades relacionadas à guerra comercial nos primeiros meses de 2020. Este novo ano promete ser de reequilíbrio no mercado global do complexo soja, e o Brasil, beneficiado em 2018 e 2019, pode perder parte destes benefícios”, diz.
As exportações de soja do Brasil deverão totalizar 74 milhões de toneladas em 2020, subindo 2% sobre o volume de 2019, projetado em 72,5 milhões de toneladas. A previsão faz parte do quadro de oferta e demanda brasileiro, divulgado por SAFRAS & Mercado, em dezembro.
No quadro de outubro, as estimativas eram de 72,5 milhões e 70 milhões respectivamente. SAFRAS indica esmagamento de 44,1 milhões de toneladas em 2020 e de 43 milhões de toneladas em 2019, representando um aumento de 3% entre uma temporada e outra.
Em relação à temporada 2020, a oferta total de soja deverá subir 6%, passando para 127,099 milhões de toneladas. A demanda total está projetada por SAFRAS em 121,35 milhões de toneladas, com ganho de 2%. Desta forma, os estoques finais deverão subir 285%, passando de 1,494 milhão para 5,749 milhões de toneladas.
Subprodutos
Nos subprodutos da oleaginosa, o mercado interno brasileiro deve continuar expandindo sua demanda, tanto pelo farelo quanto pelo óleo. O crescimento da demanda internacional por carnes somado a uma maior demanda interna por óleo para a fabricação de biodiesel deve trazer firmeza para as cotações praticadas internamente, impedindo maiores ajustes negativos nos preços.
Além disso, é possível que o Brasil também ganhe uma parcela da Argentina no mercado exportador de farelo e óleo, mercado este liderado pelo país vizinho. Dessa forma, entendemos que o ano de 2020 será de preços firmes para os subprodutos no Brasil, o que merece atenção redobrada da ponta compradora, pois o crescimento dos custos pode levar a uma diminuição da margem se não houver uma boa gestão estratégica de seu negócio.
Dylan Della Pasqua (dylan@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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