Porto Alegre, 27 de dezembro de 2024 – Os preços do trigo subiram 3,85% no Paraná e caíram 6,4% no Rio Grande do Sul em 2024. Segundo o analista de Safras & Mercado, Elcio Bento, isso deve-se à queda na safra paranaense e à maior produção gaúcha.
Bento lembra que, no início do ano, os preços internos foram pressionados pela concorrência com a Argentina. Enquanto a paridade de importação pressionava as cotações domésticas, a demanda crescente do sudeste asiático por trigo argentino aumentava a competição pelos grãos. “Ficou destacada a dependência brasileira de fornecedores externos”, disse.
O mercado começou a se ajustar em março, com uma leve alta nas cotações. Contudo, o cenário tornou-se mais crítico em abril, quando os preços saltaram nos dois estados, impulsionados por fatores externos como a valorização nas bolsas de Chicago e Kansas, além da recuperação nos preços do trigo argentino e do russo.
Em maio, essa trajetória de alta continuou, com preços no Paraná alcançando R$ 1.523, uma elevação de 13,7% em relação ao mês anterior. “A escassez de oferta no Brasil, combinada com custos elevados de importação, consolidou um mercado de preços firmes, em que até o trigo argentino, tradicionalmente mais barato, tornou-se um elemento de pressão”, analisou.
Conforme Bento, durante a primeira metade do ano, a volatilidade global e a valorização do dólar trouxeram incertezas adicionais. Mesmo com o trigo norte-americano ganhando competitividade, os preços internos acumularam altas expressivas.
Segundo semestre
Em julho, o ciclo comercial 2023/24 encerrou com preços 16,6% superiores ao ano anterior, enquanto a produção nacional registrou queda de 25%, reflexo da redução de 15% na área plantada. Até esse período, o mercado ainda comercializava a safra colhida em 2023, quando o Rio Grande do Sul teve perdas qualitativas em mais de 80% de sua produção.
“O segundo semestre foi marcado por intensas adversidades climáticas. Geadas severas e escassez hídrica afetaram as lavouras, principalmente no Paraná, que registrou perdas significativas. No Rio Grande do Sul, embora o impacto tenha sido menor, a expectativa de safra foi reduzida para 3,95 milhões de toneladas. Com a entrada da nova safra, os preços permaneceram próximos à paridade de exportação, mas as incertezas logísticas e tributárias continuaram limitando a competitividade”, disse o analista.
Em setembro, o mercado doméstico de trigo apresentou baixa liquidez devido à divergência entre compradores, que aguardavam quedas sazonais nos preços, e vendedores, que preferiram esperar pela confirmação da safra. “Nesse período as perdas por geadas ainda não haviam ocorrido e a redução da produção paranaense era apenas devido à seca e a redução da área plantada. Os riscos climáticos no Rio Grande do Sul também geravam cautela entre os agentes de mercado”, lembra.
Em outubro, as cotações dispararam nos dois principais estados, na comparação com o mesmo mês do ano passado. As negociações foram marcadas por incertezas climáticas e qualidade heterogênea dos grãos. Além disso, as geadas intensas ocorridas na primeira quinzena do mês reduziram o potencial produtivo no Paraná. No Rio Grande do Sul, foram as chuvas que comprometeram a qualidade dos grãos.
De acordo com o analista, Elcio Bento, em novembro, ficou claro que a produção nacional, pelo seguindo ano seria severamente afetada por condições climáticas adversas, comas projeções de safra sendo cortadas. A safra nacional foi estimada em 7,35 milhões de toneladas, uma redução de 16,9% em relação ao ciclo anterior.
Nesse mês de dezembro, o mercado doméstico de trigo operou em ritmo de final de ano. “Os moinhos, abastecidos, retornarão ao mercado apenas em meados de janeiro. Muitos entram em férias coletivas no próximo dia 20 e retornam ao ritmo normal apenas na segunda quinzena de janeiro. Também há os que esperam a pressão de venda por parte de produtores devido à necessidade de abrir espaço em seus armazéns para acomodar a safra de verão. De modo geral, o ano de 2014 foi marcado por um cenário desafiador, moldado por volatilidade nas cotações internacionais, adversidades climáticas e uma expressiva redução na produção interna”, finalizou.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Safras News
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