Transparência é caminho para conquistar mercado internacional de algodão

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     Porto Alegre, 31 de maio de 2021 – Além da qualidade da fibra, a transparência das informações sobre lotes e fardos influencia diretamente a percepção e a valorização do algodão brasileiro no mercado, em especial o asiático – destino de 99% das exportações brasileiras da pluma. Para ganhar a confiança do mercado e acelerar a trajetória brasileira rumo à posição de maior fornecedor de algodão do mundo, a Abrapa aposta na disponibilização de dados completos sobre rastreabilidade e análise de classificação.

     “Com consumidores a cada dia mais conscientes e exigentes, fiações e indústrias querem saber exatamente o que estão comprando. Por isso, é fundamental ampliar a transparência dos resultados de nossas análises de qualidade”, explica Júlio Busato, presidente da associação.

     Nas últimas décadas, novos recursos tecnológicos e pesquisas para melhoramento genético possibilitaram a expansão da cotonicultura e deram dimensão empresarial à produção brasileira de algodão, posicionando o País como quarto maior produtor mundial e segundo maior exportador da pluma. Na média, a qualidade da pluma produzida no Brasil é, hoje, superior à americana, nossa principal concorrente. 

     Apesar disso, o algodão brasileiro é precificado entre 400 e 450 pontos a menos que o americano. Segundo Marcelo Duarte, diretor da Abrapa para o mercado externo, o Brasil está perdendo mais de R$ 1 bilhão de reais por ano. “O produtor está deixando de ganhar mais de 100 dólares por hectare”, estima.

     Pesquisa realizada na Ásia com 127 industriais têxteis indicou que, além de características como comprimento da fibra, os três atributos mais valorizados são uniformidade dos lotes, tempo de entrega e transparência das informações. “Esse terceiro ponto é onde o Brasil mais perde para os Estados Unidos. É um atributo relacionado à confiança e temos que melhorar para conseguir melhor remuneração”, avalia Duarte.

     Para Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), dar visibilidade aos dados de todo o processo produtivo é um caminho sem volta. “A rastreabilidade dos insumos e de todos os produtos gerados ao longo de uma cadeia de produção é um dos pilares da Global Fashion Agenda na qual estamos inseridos. Mais e mais, isso vem sendo demandado pelos atores que compõem a rede de produção e de distribuição, além dos consumidores”, pontua.

      Essa também é a avaliação de João Paulo Lefèvre, presidente do Conselho da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). Segundo ele, o mercado exige, cada vez mais, informações sobre a origem dos produtos e a certeza de que o algodão comercializado foi produzido dentro das melhores práticas – sejam elas de qualidade, trabalhistas e de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. “A possibilidade de rastreamento será um fator decisivo na hora da compra, quem não tiver condições de fornecer essas informações não fará parte do mercado premium e terá o seu produto desvalorizado”, acredita Lefévre.

     Júlio Busato, presidente da Abrapa, ressalta que o compromisso com a transparência deve ser de todo o setor. “Não adianta um produtor, por maior que seja, fazer isso sozinho”, avalia. “Somos mais ágeis e mais criativos do que ao americanos, mas temos um longo e árduo trabalho pela frente, que é conquistar uma maior confiabilidade e credibilidade do algodão brasileiro como um todo”, afirma Busato. Esse é o objetivo do Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI) lançado em 2016 pela Abrapa.

     Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), acredita que o programa contribuirá para uma maior representatividade da cotonicultura brasileira no comércio mundial. “O país produz em grande escala com tecnologia e responsabilidade socioambiental. O SBRHVI, neste sentido, pode dar mais transparência e credibilidade às análises de qualidade da fibra nacional, valorizando e fortalecendo a presença de nosso produto em diferentes mercados consumidores”, avalia. As informações são da Abrapa.

     Revisão: Rodrigo Ramos (rodrigo@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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