Porto Alegre, 20 de abril 2020 – Entidades representativas da cadeia sucroenergética de todo o país enviaram na última semana um documento-manifesto ao Presidente Jair Bolsonaro relatando os impactos da crise da COVID-19 para o setor, agravados pelos baixos preços internacionais do petróleo.
A Feplana (Federação dos Plantadores de Cana do Brasil), uma das signatárias da carta, aponta que o ideal seria a aplicação por parte do Governo Federal das três principais medidas pleiteadas pela entidade de forma concomitante: um programa de warrantagem na ordem de R$ 6 bilhões para o etanol anidro e o hidratado; redução temporária de PIS e Cofins do etanol de até R$ 0,24 por litro e, ainda, aumento de R$ 0,40 na cobrança da Cide sobre o litro da gasolina.
Em entrevista à Agência SAFRAS, o presidente da Feplana, Alexandre Andrade Lima, comentou que, embora o ideal fosse o atendimento das três medidas de forma conjunta e imediata, a pauta prioritária seria a warrantagem. “Pode haver um colapso nas usinas que começaram a moagem da cana no Centro-Sul, pois cerca de 80% dessas unidades terão que armazenar o etanol produzido por conta da queda no consumo de combustíveis provocado pela pandemia de Covid-19. Algumas usinas da Região Nordeste também começaram a moer, mesmo correndo o risco de terem que paralisar a produção por conta da falta de espaço físico para armazenagem, além de não terem como honrar seus compromissos, como o pagamento dos fornecedores independentes de cana”, assinalou Lima. O presidente da Feplana espera que o governo autorize os financiamentos o mais rápido possível, para que as usinas tenham garantias para a estocagem do etanol.
Conforme a Feplana, o setor está vendendo etanol neste momento com margem relativa. “É bom salientar os impactos do governo anterior, quando a Petrobras comprava gasolina mais cara no mercado externo e vendia internamente a preços mais baixos, o que gerou grande prejuízo diante da ampla concorrência desleal ao segmento de etanol nacional. E, agora, quando o setor estava começando a ser recuperar a partir da última safra, com preços bons tanto para o açúcar para o etanol etanol, e, por isso, com grandes expectativas para esta nova safra, a qual estava sendo chamada de “Ano de ouro para o setor, veio o coronavírus”, disse Lima.
O dirigente da Feplana salienta que não há mais demanda para o etanol, e, consequentemente, aquelas usinas que têm um mix flexível vão optar por produzir e vender açúcar — produto este que no mercado interno está remunerando bem, mas no externo “nem tanto”, caindo de 15,50 de dólar por libra-peso nas bolsas mundiais para 10 centavos, gerando, segundo ele, um prejuízo em torno de 30% para quem está negociando açúcar agora, mesmo com o aumento da cotação dólar em relação ao real.
Segundo o presidente da Feplana, várias usinas do Brasil foram proativas e anteciparam-se, fixando vendas de açúcar com um preço bastante competitivo. Sendo assim, mais de 70% da safra 2020/21 de açúcar foi negociada de forma antecipada. “É bom lembrar que havia uma perspectiva de um déficit no mundo de 6 a 6,5 milhões de toneladas de açúcar por conta da redução da produção do adoçante na Índia e na Tailândia. Já o Brasil tende a aumentar bastante a produção ante a crise do etanol com o coronavírus e a queda do preço do petróleo por outros motivos. Portanto, o déficit global de açúcar tende a deixar de existir por conta do crescimento produção brasileira. Daqui em diante, o fiel da balança dependerá de como vai se comportar o mercado de etanol no mercado brasileiro”, apontou Lima.
Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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