Porto Alegre, 30 de dezembro de 2020 – Depois de acumular ganhos de 25% em 2020, o mercado de algodão ingressará em 2021 com perspectivas bastante positivas. “Este otimismo, em grande parte, vem do esperado retorno do consumo de fibras, tanto no Brasil quanto em nível global, quando a pandemia do covid-19 for controlada”, destaca o analista de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento.
Já no segundo semestre de 2020 foi possível perceber os compradores asiáticos bastante agressivos, garantindo volumes recordes de exportações para o período no Brasil e nos Estados Unidos. “A melhora da economia mundial se faz necessária para que esse algodão adquirido seja escoado sem maiores dificuldades para os grandes consumidores de tecidos, em especial a Europa e os Estados Unidos”, pondera Bento.
Ainda no lado da demanda, um fator determinante para o sucesso da cadeia produtiva de algodão no Brasil no próximo ano é o desempenho das exportações. Na temporada 2020/21, que se estende até maio de 2021, o Brasil precisa escoar cerca de 2,1 milhões de toneladas ao mercado externo para evitar que os estoques de passagem elevem a oferta disponível para a próxima temporada.
Entre junho e as primeiras três semanas de dezembro de 2020, foram embarcadas 1,228 milhão de toneladas. “Isso que significa que, para escoar o excedente de produção em relação ao consumo, é preciso embarcar 882 mil toneladas (42% do total) nos próximos cinco meses”, frisa o analista.
Na média dos últimos cinco anos, o montante exportado entre janeiro e maio correspondia a 31,6% do total, tendo o seu melhor desempenho no ciclo 2019/20 com 41%. “Ou seja, os negócios com o exterior terão que seguir agressivos e será um fator acompanhado de perto”, ressalta Bento. O câmbio permanecerá diretamente ligado a essa variável, para permitir um escoamento mais agressivo e para formar os preços domésticos.
No lado da oferta, a variável chave é o tamanho da próxima safra nacional. O excepcional retorno oferecido pelos grãos e o atraso no plantio da soja devem resultar numa queda de 10,4% da área total de algodão no país. “Com isso, o potencial de produção será próximo a 2,5 milhões de toneladas, contra 2,7 e 2,9 milhões de toneladas dos anos imediatamente anteriores”, prevê o analista. “Com a expectativa de uma retomada do consumo doméstico, no próximo ciclo o saldo exportável será menor e, depois de 3 temporadas consecutivas, poderá ser observada uma redução dos estoques de passagem”, acrescenta.
Em relação aos preços, é preciso olhar para o tripé básico: safra nacional (conforme supracitado), preços internacionais e câmbio. No cenário externo, as cotações em Nova York tendem a consolidar um patamar acima de 70 centavos de dólar por libra-peso no primeiro semestre de 2021 e testar a resistência de 80 centavos de dólar. Corroboram para essa percepção o encolhimento da safra norte-americana e suas exportações pujantes. No câmbio, com a pandemia sendo controlada e com a economia nacional e global recuperando, a tendência é que a moeda brasileira reduza a volatilidade e opere em níveis inferiores aos de 2020.
Como os produtores montaram grande parte de seus custos de produção a um câmbio alto, as margens podem encolher frente aos níveis próximos a 50% observados nos últimos meses. “De qualquer forma, tendo negociado cerca da metade da safra nova, 2021 tende a ser mais um ano de boa rentabilidade, possibilitando que o setor enfrente o período de pandemia sem grandes dificuldades”, finaliza Bento.
Rodrigo Ramos (rodrigo@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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