Foz do Iguaçu, 28 de outubro de 2024 – Apesar das adversidades climáticas enfrentadas pela cultura do trigo no Brasil nesta temporada, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) considera que, em relação à safra passada, o acesso à matéria-prima na atual será “mais fácil”. Conforme o presidente do conselho deliberativo da entidade, Rogério Tondo, neste ano, a safra do Rio Grande do Sul “está menos pior” do que a anterior e promete uma boa colheita, apesar das chuvas recentes. “Ainda há uns 80% de trigo muito bom”, disse.
Para ele, o principal desafio é a volatilidade do câmbio, que “influencia violentamente no trigo”, devido às importações. O repasse ao produtor é sempre difícil, conforme o dirigente. “Ideal seria que o câmbio estabilizasse. Já vemos que a realidade do setor está abaixo da média, os resultados dos moinhos em 2024 estão abaixo do histórico. A situação é bastante desconfortável nesse sentido”, disse.
Diversificação no fornecimento
Tondo considera que “o ideal para os moinhos é poder ter fontes em qualquer região”. Onde o trigo é produzido, a indústria tem mais facilidade na aquisição, enquanto as chamadas “regiões de consumo” sempre precisam buscar matéria-prima de outros lugares. “Sempre há essa rivalidade, mas se há um desastre climático nas regiões de produção, os moinhos de lá sofrem. Por isso, é bom ampliar a diversidade de fornecimento para estabilizar o setor”, avaliou.
Freio e contrapeso
De acordo com o dirigente da Abitrigo, o trigo da Rússia funciona como “freio e contrapeso” nas cotações internacionais. “Sem o trigo da Rússia, os preços do estadunidense estariam bem mais altos”, observou.
Remuneração ao produtor e repasse ao consumidor
Tondo disse que não há interesse da indústria de que os preços do trigo sejam muito baixos. “Torcemos para que o produtor ganhe dinheiro e continue plantando e incentivando a autossuficiência. Para o moinho, não faz diferença se o preços está baixo; não fazemos questão que seja baixo para não deixar de remunerar o produtor. Mas não pode ser muito alto, senão o prejudicado é o consumidor final.
O dirigente, que também é CEO da Orquídea Alimentos, disse que, em meio às incertezas em relação à safra, os moinhos tendem a comprar “da mão para a boca, para poder ver até onde vai o preço do trigo.
Congresso da Abitrigo
Tondo concedeu entrevista exclusiva à Safras News durante a cobertura do 31º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, realizado pela Abitrigo, em Foz do Iguaçu (PR). Ele considera o evento como positivo e destaca um público 20% superior ao ano passado. “Foram 557 participantes, sendo 93 internacionais. Além das palestras, o Congresso promoveu o networking, a troca de informações boca a boca e o contato com fornecedores, o que é muito valioso”, celebrou.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Safras News
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