O mercado de feijão carioca atravessou a semana em regime típico de hibernação, reflexo do recesso da Bolsa, com atividades formais suspensas até 5 de janeiro de 2026. A avaliação é do analista de Safras & Mercado, Evandro Oliveira. Ainda assim, diferentemente do padrão histórico de fim de ano, o ambiente físico mostrou firmeza relevante, sustentada por fundamentos de oferta mais ajustados.
Os preços permaneceram no topo, especialmente no interior de São Paulo, onde o produto nota 9 oscilou entre R$ 245,00 e R$ 250,00 por saca, consolidando R$ 245,00 por saca como piso psicológico para o produtor. A escassez acentuada de feijões comerciais (notas 7,5 a 8) foi determinante para essa sustentação, já que a oferta desses padrões praticamente desapareceu, mesmo diante de demanda varejista enfraquecida.
“Ao longo da semana, observou-se mudança clara na estratégia dos empacotadores. Parte relevante do setor optou por elevar o estoque de passagem para janeiro, avaliando como elevado o risco de aguardar a entrada da nova safra, diante de atrasos no calendário e redução de área plantada”, afirma Oliveira.
Em Minas Gerais e Goiás, o mercado permaneceu travado, com produtores retendo produto e pedindo valores acima da disposição de compra, o que limitou a liquidez regional.
“No balanço do período, o mercado encerra firme, pouco líquido e sustentado essencialmente pela restrição de oferta, mesmo em ambiente de recesso”, resume o analista.
Câmbio firme reduz pressão de estoques, mas consumo interno segue frágil
O mercado de feijão preto apresentou, ao longo do período, dinâmica distinta do carioca, marcada por forte fragilidade no consumo interno e sustentação quase exclusiva via mercado externo. O varejo segue como principal gargalo, com baixo giro e incapacidade de repasse de custos, o que mantém as negociações domésticas restritas a volumes pontuais e ao pronto atendimento.
O fator decisivo do período foi o câmbio. Com o dólar testando R$ 5,50, o Brasil consolidou recorde histórico de exportações, alcançando 501,9 mil toneladas entre janeiro e novembro. Esse fluxo foi essencial para reduzir o excesso de estoques internos e evitar pressão ainda mais intensa sobre os preços no mercado físico.
Nas origens do Sul, as cotações permaneceram estáveis e nominais. Paraná e Santa Catarina indicaram valores entre R$ 130,00 e R$ 134,00 por saca para grãos extra, enquanto no Rio Grande do Sul a pressão foi mais evidente, com lotes comerciais sendo negociados abaixo de R$ 100,00 por saca.
“Apesar do suporte externo, o consumo interno segue como principal limitador, mantendo o mercado dependente do canal externo para qualquer sustentação”, avalia Oliveira.
No campo, a radiografia da safra das águas 2025/26 reforça um cenário estruturalmente mais ajustado. O Paraná confirmou corte severo de área, entre 35% e 38%, com perdas potenciais de até 42% em polos produtivos. No Rio Grande do Sul, o estresse hídrico e o avanço limitado da semeadura já impõem riscos relevantes à produtividade.
“Mesmo com esse ajuste estrutural à frente, no curto prazo o mercado segue com baixa liquidez, preços travados e dependência das exportações”, conclui o analista.
Luciana Abdur – luciana.abdur@safras.com.br (Safras News)
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