São Paulo, SP – Os índices futuros americanos e as bolsas europeias abriram em queda. Um dia após o anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, analistas tentam imaginar quais serão os desdobramentos no comercio global, ou seja, quem ganha e quem perde com a nova política protecionista dos EUA. Trump anunciou tarifa de 20% sobre a União Europeia, 34% sobre a China, 25% sobre a Coreia do Sul, 26% sobre a Índia, e 10% sobre o Reino Unido. O pacote comercial inclui tarifas universais de 10% sobre todas as importações, além de taxas específicas para cerca de 60 países.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou que as novas tarifas de até 20% impostas por Trump sobre produtos da UE representam “um grande golpe para a economia global”. Ela destacou que as medidas protecionistas aumentarão a incerteza e terão “consequências terríveis”, citando riscos de excesso de capacidade industrial e dumping. A UE já prepara contramedidas, incluindo tarifas sobre produtos americanos como uísque e motocicletas, previstas para vigorar ainda neste mês.
Von der Leyen afirmou que o bloco europeu está finalizando duas respostas: uma sobre tarifas do aço e outra mais ampla. “Não aceitaremos práticas desleais”, reforçou, mantendo abertas as portas para negociações, mas alertando sobre os custos crescentes para empresas que comercializam com os EUA.
A agência de classificação de crédito Fitch alertou que as tarifas seriam um “divisor de águas” para a economia dos EUA e do mundo, enquanto o Deutsche Bank as chamou de um momento “único na vida” que poderia facilmente reduzir entre 1% e 1,5% do crescimento dos EUA neste ano. “Muitos países provavelmente acabarão em recessão”, disse Olu Sonola, da Fitch. “Você pode jogar a maioria das previsões pela janela se essa tarifa permanecer por um longo período de tempo.”
Os principais índices do mercado de ações asiático fecharam o pregão desta quinta-feira em forte queda, com os analistas avaliando os impactos das tarifas recíprocas anunciadas por Trump. Os países da Ásia foram os mais afetados, com destaque para a China. Analistas dizem que as novas medidas de Washington são o tipo de golpe e pressão sobre Pequim que pode prejudicar o crescimento econômico da China e seus esforços para combater a deflação. “Isso tornará impossível atingir a meta de crescimento de 5%”, disse Zhiwu Chen, professor de finanças na HKU Business School.
Os impactos das tarifas será desigual na região da Ásia-Pacífico, segundo os analistas da ANZ Research. “Para a China continental, os efeitos serão limitados, já que 88% de sua produção é destinada ao consumo interno. Em 2024, o superávit comercial chinês com os EUA representou apenas 1,5% do PIB do país. Mais significativamente, a ameaça das tarifas está pressionando os formuladores de políticas a implementarem mudanças estruturais para reequilibrar a economia chinesa. Essa estratégia se baseia em uma política fiscal expansionista, com uma meta de déficit orçamentário consolidado de quase 10% do PIB para 2025. Nossas projeções também indicam novas reduções no percentual de reservas bancárias obrigatórias”.
Por aqui, ontem, em nota, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) afirmou que o governo brasileiro lamenta decisão de impor tarifas de 10% sobre os produtos brasileiros. “O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 2 de abril, de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA”, destacou a nota.
Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.
Em Brasília, a Câmara dos Deputados aprovou o regime de urgência para o Projeto de Lei 2088/23 (PL da Reciprocidade), que permite ao Poder Executivo adotar contramedidas a países ou blocos econômicos que criarem medidas de restrição às exportações brasileiras, sejam de natureza comercial (sobretaxas) ou de origem do produto (de área desmatada, por exemplo). O projeto agora será votado em Plenário.
Segundo o texto aprovado no Senado, as exigências estrangeiras de que produtos nacionais cumpram requisitos ambientais mais rígidos do que as proteções brasileiras, por exemplo, podem gerar imposição de taxas nas importações brasileiras de bens estrangeiros. Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a
‘reciprocidade comercial’ não reflete a realidade.
Emerson Lopes / Safras News
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