Porto Alegre, 23 de dezembro de 2021 – O ano de 2021 foi, sem dúvidas, histórico no mercado brasileiro e internacional do café. As cotações bateram marcas nunca alcançadas, ou há muito não atingidas, aqui e lá fora. Em meio à pandemia, o café balançou nas bolsas de futuros, sobretudo de Nova York, conforme o humor dos mercados e das oscilações do dólar. E subiu com as preocupações com a oferta, sobretudo com a falta de chuvas e geadas no Brasil, e os problemas com a logística.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!A transição de um ano de safra recorde para outro de forte quebra na safra do Brasil serviu de impulso inicial aos preços internacionais de café, particularmente para o arábica, comenta o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach. “A forte estiagem, especialmente entre os meses de abril e maio, seguida da geada em julho no Brasil, potencializou esses ganhos. Já o gargalo logístico internacional gerou problemas no abastecimento, por conta da falta de contêineres, espaço nos navios e disparada do frete, o que acabou reduzindo os estoques junto as indústrias e também contribuiu para alta no preço do café”, avalia.
O café acabou disparando na ICE US (Bolsa de Nova York). A 2ª posição de café arábica em NY saiu de 130 cents ao final de 2020 e chegou a trocar e mãos acima de 252 cents ao longo de 2021 (+94%). Alcançou o maior patamar em 10 anos, lembra Barabach. Observa que, mesmo depois de uma ligeira acomodação, ainda foi indicado a 233 cents nesta última quarta-feira (22), alta de 79%. “E com essa performance o café acabou se destacando positivamente frente a outras commodities, superando com folga os ganhos no índice CRB (+35%) e no petróleo WTI (+51%)”, pontua.
Barabach indica que o dólar, que poderia servir de contrapeso negativo, teve um ano de 2021 de grande volatilidade e firmeza. A moeda norte-americana mostrou força frente aos seus pares, especialmente as moedas emergentes. “A fragilidade fiscal interna e a depreciação dos indicativos econômicos no Brasil contribuíram para a perda de valor da moeda local”, aborda. Assim, o dólar saiu de R$ 5,19 ao final de 2020 para R$ 5,67 no último dia 22, sustentando ganhos de 9%. No pico do ano a moeda norte-americana chegou a trocar de mãos a R$ 5,87 (março), lembra o consultor.
No Brasil, o rally na ICE e o dólar firme deram suporte aos preços internos de café, destaca o consultor. O arábica de bebida boa no Sul de Minas saiu de R$ 590,00 a saca no final de 2020 para os atuais R$ 1.415,00 a saca, uma escalada de 140% em valores nominais. Em valores deflacionados pelo IGP-M, o patamar de preço atual é o mais alto desde dezembro de 1999. “Isso quer dizer o poder de compra de uma saca de café é o mais alto em 22 anos. Mesmo com o custo de produção bem mais elevado, o ano de 2021 foi histórico e extremamente positivo para o produtor”, resume Barabach.
Importante destacar que o produtor soube dosar a oferta e não ficou numa “retranca sem fim” para a venda. O cafeicultor aproveitou movimentos de alta na bolsa e dólar e foi vendendo seu café no mercado disponível e fazendo também vendas futuras a preços cada vez mais elevados. Mas é importante também dizer que os problemas climáticos travaram as vendas em muitos momentos, sobretudo as vendas da safra futura. Isso porque a safra do próximo ano do Brasil está comprometida, pela seca e geadas, e o produtor tem dúvidas de quanto conseguirá colher.
Muitos produtores e lideranças da cafeicultura lamentam as perdas produtivas serem tão severas no próximo ano que não adianta os preços estarem tão elevados com o cafeicultor devendo colher pouco em 2022.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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