Porto Alegre, 23 de dezembro de 2021 – O mercado doméstico de trigo chegou ao final do ano de 2021 acumulando uma alta média de 38,75% nas principais regiões de produção. Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, para entender essa recuperação ao longo do ano é preciso lembrar que a formação de preços no Brasil tem como base o seguinte tripé: preços internacionais, câmbio e produção nacional.
Em relação à produção do cereal no país, como o ciclo comercial brasileiro é de agosto de um ano até julho do próximo, durante o ano, nos primeiros sete meses, o mercado negociava a produção de 6,122 milhões de toneladas da temporada 2020/21. De janeiro a julho a média de preços se elevou em 27%.
“É bom lembrar que esse é o período de entressafra no Brasil, quando historicamente os preços são superiores aos do período de colheita – entre agosto e dezembro. Neste ano contudo, nos últimos cinco meses o cereal acumulou alta de quase 10%. Essa recuperação aconteceu em plena colheita da maior safra que o país já colheu (7,630 milhões de toneladas). Isso mostra que, entre os fatores base para a formação de preços, a recuperação verificada em 2021 não tem relação com o montante produzido. Pelo contrário, o montante recorde serviu para aliviar uma recuperação ainda mais agressiva”, explicou.
Olhando para o mercado internacional, os ganhos acumulados na Bolsa de Kansas – referência para os preços do trigo hard no mundo – foram 35,6%. “Esse movimento foi resultado da quebra de safra em importantes fornecedores globais, devido à forte seca que assolou suas lavouras”, disse Bento.
Na Rússia, maior exportador mundial, a quebra foi de 15% (13 milhões de toneladas). Com a demanda forte pelo cereal, o governo russo deve impor restrições, taxando e limitando a venda para o exterior. No Canadá, a quebra foi de 40% (14 milhões de toneladas). A escassez de oferta aumentou a procura pelo trigo norte-americano, que também sofreu com o clima e teve uma safra de primavera muito ruim. A quebra nos Estados Unidos foi 10% (5 milhões de toneladas).
“Com esses gigantes das exportações com menos oferta e com a demanda pelo cereal, especialmente no Norte da África, Sudeste Asiático e Oriente Médio, as cotações globais se elevaram de forma expressiva e são o principal motivo para a elevação das cotações no Brasil em 2021”, analisou.
Para fechar, o reflexo da alta internacional foi potencializado pelo comportamento cambial. Na primeira sessão do mercado cambial em 2021 a moeda norte-americana trocava de mãos a R$ 5,27. Neste final de dezembro é cotada por volta de R$ 5,72 (+8,5%). “Com os preços internacionais elevados e com o dólar encarecendo as importações e barateando as exportações, a alta no mercado brasileiro encontrou respaldo tanto na paridade de importação, quanto na de exportação”, disse.
Convertida para reais, no início do ano, nos portos do principal fornecedor de trigo para o Brasil, a Argentina, a tonelada era indicada a R$ 1.318 a tonelada. No final de dezembro, a mesma tonelada era negociada a R$ 1.695, o que corresponde a uma alta de 28,6%. “É importante lembrar que a alta dos preços (em dólar) na Argentina foi de 18%, inferior à que se verificou em Kansas (36%). Isso se explica basicamente pelo fato de a safra norte-americana ter quebrado, enquanto a argentina será recorde”, finalizou o analista.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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