Porto Alegre, 25 de fevereiro de 2022 – Os efeitos da invasão da Rússia à Ucrânia já começam ser sentidos nas variáveis formadoras de preços do trigo no Brasil. Depois de três dias de altas expressivas nas Bolsas norte-americanas, o trigo da argentina, principal fornecedora brasileira, se elevou.
Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, a interrupção do comércio na principal região fornecedora de trigo do mundo, gerado pela guerra, tende a deslocar a demanda para outras regiões. “Estando geograficamente distante do conflito, com uma safra recorde e preços competitivos, a Argentina tende a ser uma das fontes procuradas como alternativa”, explicou.
Agora, conforme o analista, os agentes ficarão atentos às sanções ocidentais contra a Rússia, que podem ser mais severas do que as impostas em 2014. Rússia e Ucrânia juntas produzem 14% do trigo global e fornecem 29% de todas as exportações de trigo.
O dólar comercial, seguindo um movimento de aversão ao risco, também apresentou forte alta. Assim, a paridade de importação no interior do Paraná, que ficou próxima a R$ 1.620/tonelada na quarta-feira (23), nesta quinta fechou em R$ 1.708/tonelada. “O mercado doméstico segue lento, mas é interessante destacar que em apenas um dia a paridade de importação se elevou em quase R$ 90,00/tonelada”, finalizou.
De acordo com Bento, as commodities são ativos de risco e, normalmente, incertezas fazem investidores liquidarem suas posições e buscarem ativos mais seguros. “Esta situação específica, para o trigo, é diferente, pois a região do Mar Negro, onde estão Rússia e Ucrânia, é onde há mais trigo no mundo”. Ele lembra que a possibilidade de conflito já estava no radar dos investidores. “A preocupação, agora, é que o prolongamento possa trazer desabastecimento. Além dos efeitos imediatos de redirecionamento da demanda, há incertezas quanto à manutenção dos cultivos das lavouras para o próximo ano comercial”, finalizou.
Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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