Preços do milho voltaram a avançar em julho mesmo com colheita

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     Porto Alegre, 30 de julho de 2021 – O mercado brasileiro de milho manteve um cenário de preços firmes, em elevação, ao longo do mês de julho. Mesmo com a colheita da safrinha evoluindo, a sustentação foi evidente para os valores do cereal nas principais praças do país. A justificativa é a oferta prejudicada da safrinha, com ampla quebra, diante da seca em grande parte do ano e depois com as geadas. Tem sido normal ver as cotações baterem níveis históricos, superando R$ 100,00 a saca.

     A safrinha foi sendo revisada cada vez mais para baixo devido aos problemas climáticos deste ano de 2021. Em janeiro, SAFRAS & Mercado estimava uma produção desta segunda safra de 84,0 milhões de toneladas. Em março o número foi revisado, diante da falta de umidade e problemas no plantio, para 80,7 milhões de toneladas. Ao final de abril a estimativa já era de 70,8 milhões de toneladas, caindo para 61,6 milhões de toneladas ao final de maio ainda em função da escassez hídrica. Ao final de junho ainda houve geadas, e o número atual de julho aponta uma safrinha de “apenas” 56,75 milhões de toneladas, quase 30 milhões de toneladas a menos que o estimado lá no começo do ano.

     Esse quadro preocupante na oferta da safrinha, que tem de garantir o abastecimento interno (e exportações) até a entrada da safra de verão de 2022, fez com que os produtores dosassem a oferta, elevando pouco a pouco as cotações, com os compradores tendo de pagar cada vez mais para a obtenção do cereal para suas necessidades.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Paulo Molinari, o mercado interno segue tenso em plena colheita da segunda safra. “Sem dúvida, um ano bastante diferenciado em termos climáticos e com seus efeitos sobre o abastecimento brasileiro. A dependência de uma Segunda Safra de milho cada vez maior coloca o Brasil neste persistente risco de abastecimento. É claro, estamos em uma situação que combina fatores climáticos que não são rotineiros e irão surgir apenas em momentos raros. Porém, estão causando o impacto devido nos preços internos e nas condições de oferta”, avalia.

     Molinari diz que, como não há qualquer sinal de acomodação da demanda interna mais à frente, o Brasil precisará abordar os fornecedores internacionais para o complemento da oferta interna. “O que não se pode imaginar é que apenas o ‘washout’, o qual já vai sendo realizado pelas tradings desde maio, será suficiente para atender e tranquilizar a demanda interna. Os preços das tradings estão se balizando no custo de importação, e enquanto isso embarques seguem avançando para julho e agosto na exportação no Arco Norte”, comenta.

    Enquanto a produção brasileira poderá ainda registrar retrações, o longo caminho até a safrinha 2022, ainda com La Niña se desenhando para a primavera verão, estabelece a necessidade de algumas ações preventivas, aborda Molinari. “Estas ações recaem sobre a importação. Por enquanto, o mercado interno compra o que é possível de tradings internas, as quais não tinham milho ainda comprometido plenamente com a exportação. Não é possível definir até quando esta oferta de tradings estará disponível para atender plenamente o mercado interno”, indica.

    Então, para Molinari, o primeiro caminho é o Paraguai. Contudo, o país vizinho desde as geadas do início de julho se ausentou de novas vendas e parecem focados em cumprir os contratos para julho/agosto e setembro e depois disso avaliar os volumes a vender e em que qualidade, avalia. “O corte de produção no Paraguai é inevitável, assim como ocorre no Paraná e Mato Grosso do Sul”, observa. “Estamos reduzindo a safra paraguaia de 5,6 milhões de toneladas para 4,4 milhões de toneladas diante do efeito das geadas. O volume a ser vendido para o Brasil acaba sendo mais limitado para estes próximos meses, talvez tenhamos que aceitar milho com qualidade um pouco inferior para absorver volumes”, diz. O Paraguai poderia exportar perto de 3 milhões de toneladas novamente neste ano, mais da metade deste volume para o Brasil. Agora, talvez 1,7/2 milhões de toneladas.

     A outra opção imediata é a Argentina, aponta o consultor. A safra local em 47 milhões de toneladas está praticamente alinhada e é consenso. O ponto importante está no movimento de comercialização. Perto de 70% da safra 2021 está comercializada. “São 33 milhões de toneladas que não estão mais em poder dos produtores. Isto não quer dizer que estão consumidas e ainda podem vir para o mercado para atender demandas. Porém, o movimento internacional sobre o milho argentino começa a aparecer. O Brasil está perdendo 15 milhões de toneladas em vendas, pelo menos”, pondera.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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