Porto Alegre, 8 de março de 2024 – A semana foi de fortes altas para o café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) e para o robusta na Bolsa de Londres. No Brasil, mercado também firme acompanhando as altas externas, embora em muitos momentos com negócios atrapalhados por toda a volatilidade nas bolsas.
Usualmente, o robusta na Bolsa de Londres acompanha as movimentações do arábica em NY. Porém, essa lógica está invertida (assim como os contratos estão invertidos nas bolsas de futuros, com posições mais próximas mais caras que as mais futuras). Ou seja, Londres está puxando NY neste momento. Isso foi claramente observado no pregão desta quinta-feira (07), por exemplo.
Os contratos para entrega em maio/2024 fecharam a quinta-feira a US$ 3.381 a tonelada, ganho de US$ 72 a tonelada, ou 2,17%. O mercado estendeu o rally da última sessão, atingindo os patamares mais elevados em pelo menos 16 anos, desde janeiro de 2008, puxado por preocupações com a oferta. Na semana, entre as quintas-feiras 29 de fevereiro e 07 de março, o robusta para maio em Londres acumulou uma alta de 5,4%.
Há preocupações com a oferta de curto prazo especialmente no robusta. A oferta é mais curta no Vietnã e também na Indonésia. Os preços locais do café robusta nestes dois grandes produtores atingiram novos recordes nesta semana, com forte demanda e estoques combalidos. No Vietnã, traders disseram que produtores e exportadores estão segurando de 30% a 35% de seus grãos da nova safra, esperando por preços mais altos, enquanto as exportações do país asiático começaram a cair em fevereiro.
Afora uma oferta com problemas na Ásia, ainda há as dificuldades para as exportações entre os países asiáticos e a Europa, por conta dos ataques a embarcações no Mar Vermelho. Isso está atrasando o fluxo de transportes do robusta e naturalmente há um impacto sobre as cotações. Os estoques certificados em Londres também caíram a níveis históricos recentemente.
Assim, as cotações dispararam em Londres aos níveis mais elevados em 16 anos. E em NY, o mercado tem acompanhado estes movimentos. O contrato maio em NY fechou em 192,20 centavos de dólar por libra-peso nesta quinta-feira, alta de 5,90 centavos no dia, ou de 3,2%. Nos últimos sete dias, acumulou valorização de 4,3%.
O dólar fraco em relação ao real e também a outras moedas foi aspecto altista. No Brasil, a moeda americana acumulou uma baixa de 0,8% no comercial entre a quinta-feira (29 de fevereiro) e esta quinta-feira (07 de março).
Segundo o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, atualmente o mercado se apoia muito mais na volatilidade financeira que propriamente em algum suporte fundamental. “A flutuação do dólar, especialmente contra o real, e o petróleo guiam o sobe e desce das cotações da bebida no terminal de NY”, comenta.
“Já o olhar mais distante continua identificando inconsistências, com mercado ainda levemente invertido e com as posições mais distantes não acompanhando na mesma proporção os ganhos na referência spot (mai/24). O comportamento entre os vencimentos a partir de jul/24 em NY é mais linear e a curva de preços mais horizontal”, avalia Barabach. Essa atuação seria uma etapa intermediária no processo para voltar a carregar um spread positivo entre os vencimentos, aborda. “A chegada da safra brasileira 2024 e seu efeito no mercado deve servir de gatilho para acelerar o movimento de normalização do mercado. Nesse sentido, cuidado para não se prender demais ao curto prazo e ser surpreendido pelas mudanças nas posições mais longas”, adverte.
O mercado físico brasileiro de café encontrou sustentação nos ganhos externos. Houve maior movimentação de negócios nos movimentos altistas das bolsas. Os arábicas avançaram, mas os conilons tiveram altas mais expressivas pela oferta limitada e boa procura interna.
O café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu nos últimos sete dias (até esta quinta-feira, 07) de R$ 1.010,00 para R$ 1.030,00 a saca na base de compra, alta de 2%. O conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, no mesmo comparativo, avançou de R$ 835,00 para R$ 880,00 a saca, elevação de 5,4%.
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Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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