Preços do café subiram em agosto com quebra esperada para safra 2022

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     Porto Alegre, 03 de setembro de 2021 – O mercado internacional de café registrou preços mais altos nas bolsas de futuros e no Brasil as cotações acompanharam o movimento em agosto. A geada que atingiu de modo amplo os cafezais brasileiros em 20 de julho fez crescer a preocupação com a quebra da safra 2022, que já vinha com potencial prejudicado pelo clima seco ao longo de 2021.

     O mercado teme dificuldades com a oferta no próximo ano diante dessa safra que já se mostra problemática no Brasil, em ano de ciclo alto produtivo do arábica dentro da bienalidade cafeeira, em que se esperava uma grande safra brasileira. Afora isso, cresce a demanda pelo robusta com problemas vividos também no Vietnã e queda dos estoques certificados em Londres.

     O contrato dezembro do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) acumulou valorização de 7,4% em agosto, saindo de 182,45 centavos de dólar por libra-peso para 195,90 centavos na última sessão do mês. O consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, destaca que ao longo de agosto entre as commodities agrícolas, o café só perdeu em desempenho para o açúcar bruto, que subiu 11,5% no mesmo período também na ICE US. “E com o índice CRB permanecendo, praticamente, zerado, ao subir apenas 0,04% em agosto, o café voltou a ganhar valor em comparação a outras commodities”, comentou.

     Barabach indica que os problemas logísticos enfrentados pelo Vietnã, por conta da falta de contêineres, espaço nos navios e fretes internacionais muito altos, são agravados pelo anúncio de “lockdown” na origem asiática para conter o avanço da variante delta do coronavírus. Diante da incerteza com o fluxo de embarques, o preço do robusta disparou na ICE Europa. A posição Novembro/2021 rompeu a linha de US$ 2.000 e fechou o mês acumulando alta de 12,5%. “O robusta busca recuperar espaço perdido para o arábica”, comenta.

     “A alta no preço do arábica acabou elevando a procura por robusta no mundo, o que resultou em queda dos estoques”, ressalta o consultor. Estoques baixos e dificuldade no fluxo fez as indústrias mundiais elevarem o interesse pelos cafés robustas depositados na ICE Europa, o que que fez os estoques certificados caírem a 139 mil toneladas, contra 145 mil em igual período do ano passado. “O aperto nos estoques de robusta gera apreensão e oferece suporte adicional aos preços no terminal londrino”, aponta.

     O café também segue acompanhando as oscilações do petróleo e de outras commodities diante das mudanças de humor nos mercados financeiros e no dólar contra outras moedas em função das notícias da pandemia. O avanço da variante Delta preocupa e afeta as commodities.

     Já no mercado físico brasileiro de café, as cotações também subiram em agosto, e mais que nas bolsas, com um certo descolamento em relação a esses referenciais externos. “Os vetores de formação do preço interno de café seguem muito firmes. As cotações internacionais de café, tanto do arábica como do robusta, continuam altas. O dólar sustenta um patamar alto de atuação, mesmo depois de tombar e se afastar das máximas. Isso, por si só já serviria de suporte aos preços físicos internos de café. Mas ainda há a retranca dos vendedores”, comenta o consultor de SAFRAS.

     Essa postura mais curta do vendedor ganha um fator adicional que é a disponibilidade aquém da esperada, preliminarmente, para algumas descrições, como as bebidas mais fracas. “A colheita em clima, predominantemente, seco elevou o perfil da bebida, mas acabou reduzindo a oferta de bebidas mais fracas, como os cafés rios, riados e duro-riados. Em outras palavras, um ambiente bastante propício para alta das cotações”, pondera.

     No balanço de agosto, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, com 15% de catação, subiu 10,1%, passando de R$ 990,00 para R$ 1.090,00 a saca na base de compra. Barabach comenta que o arábica de bebida mais fraca ganha valor relativo, ao subir mais que os chamados cafés do grupo 1. “Além da quebra natural por carga e falta da chuva também repercute o perfil da colheita a seco, que ajuda a reduzir a oferta da descrição”, diz. Assim, o arábica rio com 20% catação na região das Matas de Minas é indicado a R$ 980 a saca, flertando alguns momentos com R$ 1.000 a saca, o que reduz significativamente a distância entre as bebidas.

    Mas o destaque é o conilon. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, em agosto, avançou 19,5%, passando de R$ 565,00 para R$ 675,00 a saca. “O conilon é impulsionado pelo forte procura. A dinâmica de compras é preferencialmente interna, com indústria doméstica elevando a utilização do conilon no blend para reduzir custo. É que mesmo com o preço mais alto ainda continua mais barato que o arábica”, avalia. Os problemas logísticos na Ásia, particularmente no Vietnã, acabaram trazendo mais interesse de fora pelo conilon brasileiro. “E o aumento da concorrência do lado da compra favoreceu um novo salto nas cotações do café”, conclui Barabach.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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