Porto Alegre, 09 de dezembro de 2022 – As cotações do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) voltaram a cair nesta semana. O mercado refletiu indicações de um clima mais favorável nas regiões cafeeiras do Brasil com vistas à safra de 2023, em que pesem ainda dúvidas produtivas e colocações de que o pós-florada desapontou em algumas áreas, e também apreensões com a economia global.
O cenário de aversão ao risco mantém sob pressão as commodities. O quadro é de inflação e recessão globais, o que sugere economias “freando” e esse menor crescimento econômico pode impactar a demanda pelos produtos, como o café. Com o mercado contando com uma oferta melhor em 2023, embalada pelo Brasil, e com uma demanda duvidosa, há pressão sobre os preços internacionais.
Na Bolsa de NY, o contrato março de 2023 voltou a romper nesta quinta-feira (08/12) para baixo a importante linha técnica de US$ 1,60 a libra-peso. Isso demonstra fraqueza técnica e o mercado pode testar novamente patamares mais baixos.
Segundo o Consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o fato é que o café continua refém de idas e vinda de outras commodities, particularmente do petróleo, que serve como uma espécie de termômetro da atividade global. “O preço do petróleo caiu recentemente ao patamar mais baixo deste ano, depois de ter subido a US$ 140 o barril com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A guinada de baixa é justificada diante dos fortes sinais de desaceleração da economia mundial, o custo alto da energia e os estoques elevados nos EUA”, observa.
Barabach diz que o comportamento do petróleo se reflete de forma direta sobre o índice CRB e de forma especial em relação ao café, que continua carente de força fundamental. “Operadores monitoram as notícias de gradual flexibilização das medidas restritivas na China, o que daria um fôlego adicional a 2ª maior economia do mundo e serviria de impulso a demanda, especialmente de commodities”, coloca.
No balanço dos últimos sete dias, entre as quintas-feiras 01/12 e 08/12, o contrato março/2023 do arábica em NY caiu de 165,75 para 158,70 centavos de dólar por libra-peso, queda de 4,25%. Já em Londres, o robusta está melhor sustentado, com o contrato janeiro em igual comparativo subindo 1,4%. Apreensões com a oferta do robusta vietnamita, com clima desfavorável, garantem suporte às cotações.
“Interessante é que o café robusta, negociado na ICE Europa, vem ganhando valor relativo na comparação ao arábica, negociado na ICE US. A valorização relativa do robusta vem se intensificando nos últimos meses, por conta do realinhamento negativo na curva do arábica a partir da expectativa de oferta futura maior no Brasil”, diz Barabach.
No Brasil, o mercado apresentou também perdas para os arábicas, refletindo a baixa de NY. O arábica bebida boa no sul de Minas Gerais recuou entre 01 e 08 de dezembro de R$ 980,00 para R$ 955,00 a saca, baixa de 2,55%. O ritmo de negócios foi lento, com vendedores se afastando nos momentos de baixas na bolsa.
O avanço da entressafra associado à pouca disponibilidade física favorece um descolamento positivo em relação à referência de NY e trazer um leve viés positivo aos preços, coloca o consultor. “Mas a expectativa de uma safra brasileira 2023 cheia serve como barreira, que tende a limitar as investidas de alta”, afirma.
O destaque é o conilon, que está melhor sustentado refletindo uma melhor demanda e oferta retraída. O conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, subiu no comparativo de R$ 605,00 para R$ 640,00 a saca, alta de 5,8%.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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