Preços do café caem no balanço de junho com desmonte da proteção climática

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     Porto Alegre, 02 de julho de 2021 – O mercado internacional de café teve um mês de junho de muita volatilidade, de altos e baixos. Os preços do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização mundial, iniciaram o mês em patamares elevados diante da apreensão com o clima seco no Brasil, ameaçando a safra futura de 2022 principalmente, e com as indicações de oferta mais apertada internacionalmente. Fundos e especuladores armaram uma proteção climática para a seca e também para o frio.

     Depois, os preços encontraram acomodação com o retorno das chuvas e com notícias mais tranquilas em relação à oferta, para no final do mês voltarem a disparar com temores com o frio no Brasil e a seguir caírem com a redução dessas preocupações e com um “desmonte da proteção climática”

     A máxima para o contrato setembro do arábica em NY foi justamente em 01 de junho, quando a posição chegou a 168,65 centavos de dólar por libra-peso. Depois, com a volta das chuvas no Brasil o mercado passou a cair e bateu na mínima do mês neste mesmo contrato em 21 de junho, a 149,05 centavos. Adiante, as previsões de frio extremo e de geadas geraram novas compras de fundos e especuladores buscando proteção contra o clima e os preços voltaram a subir.

     O frio veio, houve geadas em algumas regiões do Paraná e sul de São Paulo, mas sem notícias de tantos estragos, o que promoveu então uma correção para baixo nos últimos dias de junho. E o balanço do mês terminou negativo para o café em NY.

     Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o mercado dá sinais de que superou o frio no Brasil e passa por correção nesta virada de mês. “O movimento é um pouco cauteloso, mesmo porque os produtores ainda avaliam a extensão dos estragos com o frio. Mas a ideia preliminar é de geadas isoladas e perdas pontuais, não afetando a produção brasileira de forma mais significativa. Nesse sentido, espaço para desmanche da proteção climática”, comenta. Ele destaca que é bom lembrar que antes do repique climático a posição Setembro/2021 flertou com a linha de 150 cents na ICE US.

     A disparada do dólar é outro fator que joga contra as commodities, incluindo o café. O dólar index (DXY) retomou a linha de 92 pontos, repercutindo temores com a variante Delta da Covid19 e digerindo os sinais de notícias do Fed sobre a política monetária americana.

     Para Barabach, tudo indica que o café na ICE já precificou a menor oferta brasileira deste ano. E agora olha com atenção para a temporada fria no Brasil e volatilidade financeira. “É verdade que o mercado encontra suporte no déficit na oferta global em 2021/22. Mas o avanço da colheita no Brasil (perto de 50% colhido) vai aproximando o mercado das floradas da safra brasileira 2022, que podem, caso anunciem uma safra cheia no próximo ano, levar a uma guinada negativa mais forte dos preços internacionais”, adverte.

    No balanço de junho na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), o contrato setembro do arábica acumulou desvalorização de 2,8%, tendo fechado maio em 164,30 centavos de dólar por libra-peso e encerrado junho em 159,75 cents. Em Londres, o contrato setembro do robusta subiu no mesmo comparativo 6,2% no mês, na contramão de NY.

     Já no mercado físico brasileiro de café, as cotações também recuaram para o arábica como em NY, enquanto o conilon subiu em linha com o robusta em Londres. O movimento de venda diminuiu com as quedas em NY, com o produtor já bem vendido da safra deste ano e adiantado nas vendas de 2022 e até 2023.

     Barabach diz que, embora continue valendo a estratégia de alongar posições de venda no curto prazo, particularmente nesse momento de transição entre as safras, o mercado exige do produtor muito mais atenção às oportunidades de venda e a proteção da margem, especialmente em relação às safras futuras.

     No balanço mensal, o dólar comercial caiu 4,8%, terminando junho abaixo de R$ 5,00, o que foi elemento negativo para os preços em reais do café no país.

     No balanço de junho, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, com 15% de catação caiu em junho 2,9%, passando de R$ 850,00 para R$ 825,00 a saca na base de compra. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, no mesmo comparativo, avançou 4,2%, passando de R$ 475,00 para R$ 495,00 a saca.

     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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