Porto Alegre, 27 de agosto de 2021 – A semana foi de preços mais altos no mercado internacional do café, refletindo também na melhora dos valores pagos aos produtores no Brasil. A apreensão com a oferta global, especialmente com a safra de 2022 do Brasil, garantiu suporte às cotações nas bolsas de futuros de Nova York (ICE Futures US) para o café e de Londres para o robusta. Em NY, o mercado escala para testar e superar a linha de US$ 1,90 a libra-peso novamente.
O clima seco em 2021 no Brasil e as geadas de 20 de julho tiraram o potencial produtivo da safra de arábica principalmente que será colhida em 2022. Resta saber o quanto a produção será afetada e o país ainda precisa de boas chuvas agora em setembro para as floradas e pegamento dessas floradas. É grande a preocupação no mercado. Uma safra brasileira bem abaixo do potencial pode gerar déficit significativo na oferta global frente a uma demanda que pode crescer com a diminuição dos efeitos econômicos da pandemia do coronavírus.
O café, porém, segue muito atrelado ao desempenho do petróleo e de outras commodities. O dólar fraco frente ao real e outras moedas na semana foi aspecto altista para o café também. O dólar comercial no balanço entre as quintas-feiras 19 e 26 acumulou baixa de 3,1% frente ao real. Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, “o mercado ainda deve seguir vulnerável à volatilidade financeira e suscetível ao petróleo e índice CRB (de commodities)”. Ele indica que as preocupações com a variante Delta do coronavírus e o impacto sobre o crescimento global da economia pesam sobre as commodities, sobre o petróleo e no comportamento do dólar.
No balanço da semana, entre 19 e 26 de agosto, o arábica em NY para dezembro subiu de 181,30 para 188,00 centavos de dólar por libra-peso, acumulando valorização de 3,7%.
Em Londres, o café robusta subiu no mesmo comparativo no contrato novembro 7%, passando de US$ 1.863 para US$ 1.994 a tonelada, indo também frente a um importante patamar de US$ 2.000 a tonelada. O robusta em Londres vai sendo sustentado também pelas indicações de queda nos estoques vietnamitas deste tipo de grão e de baixa nos estoques certificados da Bolsa também. As indústrias de torrefação vão usando mais robusta em seus blends diante do alto custo com o arábica e essa demanda adicional garante suporte aos avanços das cotações em Londres.
No mercado físico brasileiro de café, os produtores seguem dosando a oferta e aproveitando movimentos de alta de NY ou do dólar. A moeda americana em níveis altos é um componente importante de suporte às cotações em reais do grão ao produtor. Porém, o ritmo de negócios diminuiu com as geadas, somadas aos temores com o tempo seco. O produtor em muitas regiões não sabe o quanto vai colher, pois as perdas são incertas e ainda estão sendo avaliadas. E também segura os grãos à espera de cotações mais elevadas ainda.
O consultor de SAFRAS observa que a postura curta dos vendedores tem forçado as tradings e as indústrias domésticas, que precisam de café, a serem mais agressivas em suas ofertas de compra. E isso leva a um descolamento do preço interno em relação aos vetores de preço externo. “Um comportamento típico de entressafra, antecipado esse ano por conta da quebra da safra brasileira 2021 e dos problemas enfrentados para safra 2022”, comenta.
Assim, no balanço da semana, entre 19 e 26, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu 3,9%, passando de R$ 1.020,00 para R$ 1.060,00 a saca de 60 quilos. Já o conilon tipo 7 em Vitória, Espírito Santo, subiu de R$ 640,00 para R$ 675,00 a saca, valorização de 5,5%.
Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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