Porto Alegre, 23 de dezembro de 2020 – O ano de 2020 foi, indubitavelmente, atípico para a pecuária de corte brasileira. “Os preços do boi gordo apresentaram uma impressionante resiliência apesar das mudanças provocadas pela pandemia, com fechamento de estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes, rede hoteleira… elementos que reduziram a demanda de carne bovina”, diz o analista da Consultoria SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias.
O segundo trimestre de 2020 foi marcado por uma inédita desaceleração da economia. A necessidade de medidas rigorosas de distanciamento social paralisou setores importantes da economia. No entanto, mesmo em um período pautado por uma oferta mais abundante de animais terminados, os preços mínimos do boi gordo no mercado paulista foram de R$ 193,94 por arroba e, no ápice do ano, em meados de novembro, se aproximaram da incrível marca de R$ 300,00 por arroba.
Conforme Iglesias, dois elementos básicos explicam a resistência dos preços do boi aos efeitos devastadores da pandemia na economia. O primeiro fator é a China, com o gigante asiático absorvendo volumes impressionantes de proteína animal brasileira para preencher a lacuna provocada pela Peste Suína Africana (PSA).
O outro aspecto está na queda dos abates domésticos, que ocorreu mais uma vez e ajudou a manter a oferta interna enxuta, em linha com as alterações de padrão de consumo no Brasil provocadas pela pandemia.
Em relação ao volume de abates, 2020 registrou o patamar mais baixo desta década, com uma queda estimada de aproximadamente 7,7% na comparação com 2019. Conforme Iglesias, a queda é uma consequência das mudanças do ciclo da pecuária de corte. “O gargalo na cadeia produtiva formado com o abate de matrizes em meados de 2017 está cobrando seu preço, levando a um quadro de forte restrição de oferta em um momento pautado pela excelente demanda destinada à exportação, com o Brasil estabelecendo novo recorde em termos de volume exportado durante o ano de 2020”, apontou.
As projeções mais atuais apontam que o Brasil abata em torno de 31,94 milhões de cabeças de gado em 2020, um dos menores volumes da década. Em 2019, foram abatidos em torno de 34,6 milhões de cabeças de bovinos. Para o ano de 2021 a expectativa é que os abates se recuperem, avaliando o processo de recomposição do rebanho. A retenção de fêmeas nos momentos de explosão de preços vai ter um efeito mais nítido sobre o mercado a partir do mês de maio, quando o país deve superar o volume de 2,78 milhões de cabeças abatidas.
Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS Copyright 2020 – Grupo CMA