Porto Alegre, 23 de dezembro de 2021 – Após um ano de 2021 extremamente atípico para a pecuária de corte brasileira, com altas recordes nos preços da arroba do boi, que ultrapassaram a marca de 330 reais em São Paulo, mas também solavancos provocados pelo embargo chinês a nossa carne, o próximo ano tende a ser bastante desafiador de diferentes maneiras. “A começar, teremos uma disputa eleitoral que tende a manter o real desvalorizado. Somado a isso, a recente mudança de discurso do banco central dos Estados Unidos também tende a manter a moeda dos países emergentes desvalorizada. Outras questões permanecem no radar, como a evolução das políticas fiscal e monetária e as tentativas de conter a espiral inflacionária”, aponta o analista da consultoria SAFRAS & Mercado, Fernando Henrique Iglesias.
Na avaliação do analista, a curva dos preços atraente deve manter as estratégias de retenção de matrizes no radar dos pecuaristas no próximo ano. Em termos de animais abatidos a expectativa é que haja avanços, “o que não é particularmente difícil considerando as peculiaridades em torno do abate no último quadrimestre de 2021”. O Brasil deve fechar 2021 com cerca de 29 milhões de cabeças de boi abatidas. Para 2022, a estimativa da SAFRAS & Mercado é de abates de 31,3 milhões de cabeças, um volume mais próximo do patamar de 2020, representando um crescimento de oito por cento na base anual.
Conforme Iglesias, a expectativa positiva para os abates dá um importante suporte aos preços da arroba, mantendo-os em patamares elevados. “A dúvida é sobre como será o comportamento da China do lado importador. É provável que ela assuma um ritmo mais discreto nas compras de carne bovina brasileira. De qualquer maneira, o volume que deve ser exportado pelo Brasil é suficiente para manter a arroba do boi gordo acima de 300 reais em grande parte do ano de 2022. Já como outro limitador do ponto de vista da demanda doméstica, a descapitalização do consumidor médio, que ainda opta por produtos que causem menor impacto na renda média, permanecerá evidente”, pontuou o analista.
Em termos de produção, a abrupta queda dos abates no último quadrimestre de 2021 também impacta na produção de carne ao longo do ano. O Brasil deve fechar os doze meses de 2021 com produção de 7,9 milhões de toneladas em equivalente de carcaça. No próximo, ano o Brasil produzirá aproximadamente 8,4 milhões de toneladas, crescimento de 7,4% comparado a 2021. “Mais uma vez, as distorções acabam pesando para esse número”, apontou Iglesias.
Em relação às exportações, o fraco desempenho dos embarques no último trimestre “acabou comprometendo o resultado de um ano que se desenhava espetacular até o embargo”. De janeiro a dezembro o Brasil tende a embarcar em torno de 2,67 milhões de toneladas em equivalente de carcaça. No próximo ano, será evidenciado ligeiro crescimento nos embarques e, mais uma vez, há necessidade de pontuar que as distorções dos últimos meses influenciarão o desempenho. Em 2022, o Brasil tende a embarcar em torno de 2,7 milhões de toneladas em equivalente carcaça.
Com isso, a disponibilidade interna deve ser muito superior na comparação com 2021, crescimento de mais de 10%. No entanto, pondera Iglesias, esse resultado é mais um produto do atípico 2021 do que uma tendência de avanços consistentes da oferta no próximo ano. Os números de 2022 estão mais próximos de 2020, que também foi um ano pautado pela oferta anêmica.
“Com evidentes dificuldades macroeconômicas é bastante possível que a demanda doméstica mantenha sua preferência pela carne de frango. O real desvalorizado é outra premissa importante a ser considerada nesse contexto, pois mantém as commodities brasileiras muito competitivas no mercado internacional. Isso tende a manter a veia exportadora da agroindústria brasileira como um foco prioritário para expansão das receitas setoriais”, finalizou Iglesias.
Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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