Porto Alegre, 30 de dezembro de 2021 – O Brasil deve produzir mais algodão em 2022. O plantio acelerado da soja abre uma boa janela para o algodão de segunda safra no Mato Grosso, principal estado produtor. “Já o preço alto praticado no mercado internacional garante uma boa rentabilidade, o que estimula o interesse do produtor”, explica o analista de SAFRAS & Mercado, Gil Carlos Barabach. Outro ponto positivo é o dólar alto, que ajuda a impulsionar os preços internos da fibra (em reais).
A Bolsa de Nova York (ICE US) acumulou ganhos de 37% em 2021, na parcial até dia 28 de dezembro. “Essa performance em NY atrai naturalmente o interesse do produtor”, frisa o analista. É verdade que o aumento dos custos, especialmente de fertilizantes e na classificação, tira um pouco da força dos ganhos, reduzindo a relação de troca. “Mesmo assim, a rentabilidade segue muito favorável, uma vez que muitos dos produtores já tinham comprado insumos antecipadamente e a preço mais baixos”, relata.
Além disso, os vendedores também fixaram antecipadamente o preço da safra 2021/22, travando posição contra ICE US. O contrato Jul/22 na ICE, que serve de referência para o preço da próxima safra brasileira, trocou de mãos acima de 112 centavos de dólar no último mês de novembro. “O mercado não atingia preços tão altos desde 2011”, lembra.
Em linhas gerais, o mercado internacional de algodão deve seguir atrelado a duas importantes variáveis: a recuperação da produção, com foco em Brasil, Estados Unidos e Índia, e a retomada do consumo global. “Nesse sentido, o clima, no lado da produção, e a variante Ômicron, no lado da demanda, têm papel decisivo”, pondera.
O mercado de algodão é muito sensível a variação de renda. “E as restrições tendem a afetar o potencial do PIB mundial e pesar negativamente contra o consumo de algodão”, ressalta. O fluxo de compras da China, maior importador mundial, é um importante termômetro, especialmente para o Brasil.
No consumo interno, a expectativa é de um crescimento modesto na demanda. A indústria têxtil nacional teve uma recuperação segmentada e desigual. E ainda sofre com questões logísticas. “Isso sem falar na debilidade dos indicativos para a economia nacional em 2022, amedrontada pelo combo inflação e desemprego altos”, justifica. Isso tudo reduz perspectiva de crescimento, com natural efeito sobre as projeções da demanda doméstica de algodão.
Em resumo, o ano de 2022 deve ser de recuperação na produção mundial e marcado por realinhamento negativo na curva de preços internacionais. Aqui dentro, o dólar tende a seguir firme e volátil (eleições 2022). “E isso pode atenuar eventuais perdas lá fora”, destaca. Do lado da demanda, o cenário ainda muito desafiador, especialmente internamente.
Rodrigo Ramos (rodrigo@safras.com.br) / Agência SAFRAS
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