Pontas inflexíveis e safra de verão travam negócios com trigo no Brasil

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Porto Alegre, 14 de abril de 2023 – O mercado brasileiro de trigo mantém o ritmo lento de negócios. O fraco movimento é tradicional no período, uma vez que o escoamento das safras de verão, em especial soja e milho, ocupa a maior parte dos caminhões para frete.

Quando há disponibilidade logística, no entanto, outros fatores travam as negociações. A indústria segue bem abastecida, de um modo geral, e se mostra pouco flexível em suas ofertas. Do outro lado, os produtores apostam na escassez da oferta, principalmente de alta qualidade, para recusar os atuais preços.

Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, a baixa disponibilidade de trigo na Argentina e a necessidade de compra pelo Paraná são os principais fatores que dão respaldo à postura do vendedor.

A recente queda do dólar em relação ao real surgiu como mais um fator para travar a realização de negócios com trigo no Brasil. No último dia 24 de março a moeda norte-americana chegou a trocar de mãos a R$ 5,34. Nesta quinta-feira bateu a mínima em R$ 4,89.

Conforme Bento, além de inviabilizar as exportações, a valorização da moeda brasileira em relação ao dólar passa a reduzir o espaço para elevação durante a entressafra.

Exportações

      Segundo números oficiais do governo brasileiro, as exportações acumuladas de trigo em grão na temporada 2022/23 (ago/22 a mar/23) chegaram a 2,344 milhões de toneladas. Esse montante é inferior ao de igual momento do ciclo comercial anterior (2,734 milhões de toneladas) em 14,4%.

Do exportado na atual temporada, 2,09 milhões de toneladas foram originados no Rio Grande do Sul (89% do total). O Paraná vendeu 134,4 mil toneladas (5,7%) e Santa Catarina 7,7 mil toneladas (0,3%).

O principal destino das vendas brasileiras de trigo é a Indonésia com 856,7 mil toneladas, seguida pela Arábia Saudita com 333,6 mil toneladas, Vietnã com 206,3 mil toneladas, África do Sul com 136,5 mil toneladas e Bangladesh com 107,93 mil toneladas.

Com os preços pouco competitivos (preços internacionais e câmbio em baixa) e com o porto de Rio Grande/RS tendo sua capacidade logística saturada pela safra de verão, dificilmente o país conseguirá colocar um montante superior aos 3,028 milhões de toneladas do ciclo anterior.

Gabriel Nascimento (gabriel.antunes@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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