A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, pediu aos Estados Unidos e à China que reduzam as tensões comerciais, alertando que um “desacoplamento” entre as duas maiores economias do mundo poderia reduzir o PIB global em até 7% no longo prazo. Em entrevista à agência Reuters, ela afirmou que a OMC está extremamente preocupada com o aumento recente das disputas entre Washington e Pequim e tem mantido diálogo com autoridades de ambos os países para evitar uma escalada.
Okonjo-Iweala destacou que, embora os dois lados tenham recuado de uma escalada tarifária anterior, a situação atual segue sendo “um risco sério” para a economia global. Segundo ela, qualquer divisão do comércio mundial em blocos distintos teria consequências severas, inclusive perdas de dois dígitos no bem-estar dos países em desenvolvimento. A OMC, na semana passada, reduziu drasticamente sua previsão de crescimento do comércio global de mercadorias para 2026, de 1,8% para apenas 0,5%, citando os impactos das novas tarifas impostas pelo governo de Donald Trump.
Durante reunião com autoridades do G20, Okonjo-Iweala afirmou que não pode haver estabilidade financeira global sem estabilidade comercial, observando que o redirecionamento de fluxos comerciais tem alimentado o protecionismo em várias partes do mundo. Apesar disso, ela ressaltou que cerca de 72% do comércio mundial ainda segue as regras da OMC, mostrando a resiliência do sistema multilateral mesmo diante do maior choque de políticas comerciais em oito décadas.
A chefe da OMC defendeu que a crise atual deve ser usada como oportunidade para reformar e modernizar a instituição, tornando-a mais flexível e eficiente, especialmente em áreas como comércio digital, serviços e transição verde. Ela afirmou ter tido uma reunião produtiva com o novo embaixador dos EUA na OMC, Joseph Barloon, e agradeceu o fato de Washington ter retirado a organização da lista de cortes orçamentários, sinalizando uma possível melhora nas relações entre os EUA e a entidade.

