São Paulo – Em coletiva sobre o Relatório de Política Monetária, realizada em Brasília no final da manhã de hoje, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e o diretor de política econômica, Diogo Guillen, mostraram novamente desconforto com a desancoragem da inflação.
Reforçando o tom de cautela da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ambos disseram que no momento não há guidance, e que as próximas atualizações da Selic (taxa básica de juros) serão guiadas pelos dados a serem divulgados.
O banqueiro disse que conduzir um processo desinflacionário é muito mais difícil em um cenário de desancoragem das expectativas, e que a instituição está “tateando” o cenário macroeconômico para saber se as taxas estão restritivas o suficiente.
Guillen explicou que a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 caiu de 2,1% para 1,9% tanto por questões internas quanto externas.
A política contracionista, observou o diretor, já pode ser notada na concessão de crédito, que mostra arrefecimento. Neste cenário, a projeção do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2025 é de 5,1%: “A perspectiva de inflação entre 2026 e 2029 voltou a subir”, contextualizou.
Galípolo fez questão de sublinhar a autonomia e isenção do BC, e ao ser questionado se os jantares com personalidades podem atrapalhar o seu trabalho e eventualmente criar conflitos de interesses, ele foi cáustico: “Os jantares atrapalham a minha forma física, mas não o meu
trabalho”.
Incertezas globais
O diretor do BC acredita que a expectativa de inflação atinge não apenas o Brasil, mas os emergentes em geral.
Tanto Galípolo quanto Guillen concordam que a incerteza no cenário comercial global ganhou novos níveis de complexidade, puxada pelos Estados Unidos: “O choque de tarifas pode produzir um choque de ofertas. Não se tem clareza sobre a magnitude disso”, avaliou o presidente.